Máfia da Loteria Esportiva‏

O delegado João Ricardo Lousada, da Polícia Federal, é afastado do inquérito depois de ouvir mais de 400 pessoas e estar prestes a indiciar 30 envolvidos.
      Já se conhece a primeira vítima do inquérito sobre a máfia da Loteria. é o delegado João Ricardo Lousada, único doutor em Direito Penal entre os 12000 funcionários da Polícia Federal, responsável por nada menos que dez processos contra o governo federal, em plena vigência dos atos institucionais, por abuso de poder – já ganhou oito e espera ganhar outros dois  restantes- e encarregado do inquérito sobre a máfia nos últimos dois anos. A partir de uma reunião entre Aécio Neves da Cunha, diretor da área de jogos da Caixa Econômica Federal, e o diretor geral da PF, Coronel Luiz Alencar Ararique, homem indicado para o cargo pelo ex presidente Tancredo Neves, na qual foi pedida “mais pressa” à PF, Lousada não é mais o encarregado das apurações – apesar de ter ouvido mais de 400 pessoas e já ter conviccção para indiciar cerca de 30 envolvidos por formação de bando ou quadrilha. Em seu lugar, foi nomeado o delegado Paulo Lacerda, policial que teve contato com o inquérito quando o ex presidente botafoguense, Charles Bore, denunciou o radialista Flávio Moreira. À época, Lacerda foi mal sucedido (Leia a coluna de Juca Kfouri) e Bore acabou sendo condenado por difamação, sendo posteriormente absolvido. Moreira, no entanto, nada sofreu.
      A iniciativa da Pf, que muda de mãos pela sexta vez o comando das apurações, parece rasoável, ou seja, quer terminar o mais rapidamente possível o inquérito que está a um mês de completar três anos. Mas a atitude parece imputar a Lousada a responsabilidade de pela demora, quando, na verdade, ninguém colaborou tanto, na PF, para que a verdade viesse à luz – apesar de jamais ter podido contar com os recursos necessários para tanto, chegando a pagar de seu bolso o custo de algumas investigações.
      É possível que Lousada tenha provocado insatisfação na cúpula da PF por suas recentes declarações à imprensa. Ele reclamou da falta de verbas para fazer as poucas viagens que lhe restavam para concluir o inquérito e revelou que possui mais 50 inquéritos sob sua responsabilidade. É possível, também, que, de fatp, a PF se tenha sensibilizado com o correto apelo de urgência nas investigações.
                             COM MUITA CORREÇÃO
      De qualquer forma, é estranho que o inquérito tenha mudado de mãos e tenha sido avocado para Brasília, principalmente porque o delegado Paulo Lacerda acaba de ser transferido exatamente para o Rio de Janeiro, onde trabalha o delegado Lousada. Pelo menos é o que informa o boletim de serviço nº 173 da PF em sua página dois. Lá, uma espécie de Diário Oficial interno, se pode constatar que Lacerda foi removido, por ordem do diretor geral, da delegacia de Ponta Porã, Mato Grosso do Sul, para o Rio – o que invalida a justificativa da própria PF de que ao correr por Brasília o inquérito teria sensível diminuição em seus custos. ” É mais fácil deslocar alguém de Brasília para o Ceará do que do Rio”, explicou Artur Carbone Filho, acessor de comunicação social do Rio.
      Discreto, Lousada prefere não comentar o caso. Ele foi o quinto delegado a presidir o inquérito. Antes dele, foram encarregados os delegados Ramon Afonso Neto, substituído por Laerte Ribeiro Nobre, que, transferido para Paraíba, deu lugar a Éubio Pereira Melo, sendo que este, ao assumir a direção do DOPS, cedeu o posto a Carlos Mandin de Oliveira. Lousada recebeu o inquérito com cerca de 500 páginas e o entrega com mais de 1600, cinco gordos volumes que lhe deram a convicção que provavelmente faltará ao delegado Lacerda para indiciar os culpados. A menos que Lacerda refaça a tragetória de seu antecessor, um caminho que acabará retardando ainda mais a conclusão dos trabalhos. Ou simplesmente reafirme a correção do que foi feito por Lousada, hipótese remota diante da estranha substituição do colega.
      De tudo, resta uma certeza. Com Lousada afastado, um dos chefões da máfia do Rio, o dono do cassino clandestino do Clube Umuarama, na Gávea, Manoel Rodrigues Mansur, o “Nelito”, poderá dormir mais tranquilo. Ele e seus comparças, que eram nomes certos para serem indiciados pelo crime de formação de quadrilha.
      Boa sorte, delegado Lacerda.

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