Comentaristas do SporTV elegem momentos marcantes do Palmeiras

O caminho para a construção da história de um clube passa pela criação de ídolos identificados com a instituição. E esse caminho é pavimentado com grandes jogos e conquistas. Em 99 anos, o Palmeiras viveu muitos dias de glória e alguns dissabores, mas sempre teve em suas fileiras craques históricos, bem como foi protagonista de partidas históricas.

Para celebrar o aniversário do Palmeiras nesta segunda-feira, e o início das comemorações do centenário do clube, em 2014, os comentaristas do SporTV Maurício Noriega e Wagner Vilaron elegeram os jogos mais importantes e os jogadores que mais se identificaram com a camisa do Verdão

Noriega ficou responsável por escolher as partidas que, na visão dele, são as mais lembradas pelos torcedores. A lista começa com a maior goleada da história do clássico com o Corinthians. Em 5 de novembro de 1933, o então Palestra Itália recebeu seu eterno e mais tradicional rival no estádio Palestra Itália pelo segundo turno do Torneio Rio-São Paulo. Com um gol de Romeu Pellicciari logo aos 7 minutos, o Alviverde abriu o caminho para o histórico 8 a 0, até hoje a maior derrota do Alvinegro. Romeu Pellicciari marcou quatro gols ao todo, Gabardo anotou um tento e Imparato III fechou o placar ao marcar os três últimos gols.

Apesar de ter feito menos gols que Romeu, esse jogo tem como personagem mais lembrado Luis Imparatto. Ele ficou conhecido como Imparatto III pois foi o terceiro de sua família a jogar no Verdão. Seus irmãos Gaetano, Antônio e Ernesto também vestiram a camisa verde.

– É a maior goleada do clássico. É um jogo que ficou marcado pelos gols do Imparatto, sempre lembrado pelos torcedores mais velhos e que anos depois virou personagem do filme “O Casamento de Romeu e Julieta” – comentou Noriega.

O Palestra morre líder e o Palmeiras nasce campeão

Em meio à 2ª Guerra Mundial (1939 a 1945), o governo brasileiro decretou que agremiações esportivas que tivessem nomes estrangeiros mudassem sua nomenclatura. A atitude foi tomada uma vez que o Brasil lutava ao lado dos países “Aliados” (Estados Unidos, Inglaterra e França, entre outros) contra os países do “Eixo” (Alemanha, Itália e Japão). Em 25 de março de 1942, o então Palestra Itália passou a ser chamado de Palestra de São Paulo. A artimanha não colou e o governo exigiu a troca. O Palmeiras surgiu em 14 de setembro de 1942. Seis dias depois, enfrentaria o São Paulo pela penúltima rodada do Campeonato Paulista, com o Verdão na liderança e o Tricolor na segunda colocação.

No dia do jogo, 20 de setembro, os jogadores do Palmeiras entraram no gramado do Pacaembu carregando a bandeira brasileira. Dentro de campo, o Alviverde vencia por 2 a 1 quando foi marcado pênalti de Virgílio sobre o palmeirense Og Moreira. Revoltados os jogadores tricolores abandonaram a partida. Com os 3 a 1, o Palmeiras, com uma semana de vida, nasceu campeão.

– É a partida que ficou marcada como a “Arrancada Heroica”, hoje nome de um viaduto perto do estádio palmeirense. Tinha toda uma animosidade contra os clubes de colônias. E esse jogo ficou marcado pela frase: “O Palestra morre líder e o Palmeiras nasce campeão”.

Campeão do Mundo

Em 1951, o Brasil ainda vivia intensamente o baque sofrido com a derrota para o Uruguai que tirou da Seleção a chance de conquistar seu primeiro título mundial. Foi então realizado pela CBD (Confederação Brasileira de Desportos, antecessora da CBF) um torneio com oito equipes, entre europeias e sul-americanas, divididas em dois grupos com quatro times, que jogariam e São Paulo e no Rio de Janeiro.

O Palmeiras classificou-se como segundo do grupo de São Paulo, eliminou o Vasco na semifinal e foi fazer a final com o Juventus, da Itália. Foram dois jogos no Maracanã. Na primeira partida, vitória brasileira por 1 a 0, o que dava ao Palmeiras a vantagem do empate no segundo jogo. O 2 a 2 deu ao título ao Palmeiras, conquista tratada pelos torcedores como um título mundial.

– Foi importante por ter ajudado a resgatar o orgulho da torcida brasileira depois da derrota de 1950 para o Uruguai. Depois da conquista, na viagem de volta, o trem que trazia delegação do Rio de Janeiro para São Paulo parava em todas as cidades para que os jogadores fossem homenageados – explicou Noriega.

O fim do jejum

Evair corre para festejar o título de 1993

O dia 16 de junho de 1993 está marcado para sempre na memória dos torcedores do Palmeiras. Neste dia, um sábado frio na cidade de São Paulo e no qual se comemorava o Dia dos Namorados, o Palmeiras encerrou um jejum de 16 anos sem títulos. No primeiro jogo da final, o time perdeu para o Corinthians por 1 a 0, gol de Viola, que ficou famoso por comemorar imitando um porquinho, um dos mascotes palmeirenses.

A derrota na primeira partida não desanimou o Verdão, que tinha um elenco estrelado, formado por Evair, Edmundo, Edílson, Roberto Carlos e comandado por Vanderlei Luxemburgo. O Palmeiras precisava vencer no tempo normal e na prorrogação. A obrigação não abateu o time, que fez 3 a 0 durante os 90min. Evair, de pênalti, sacramentou a vitória no tempo extra e garantiu a festa Alviverde.

– Foi o fim da fila de títulos para o Palmeiras. E aconteceu em cima do maior rival. O Evair se consolida e dá início a um período de conquistas.

A conquista da América

Se por um lado o título de 1993 encerrou um jejum de 16 anos sem títulos, por outro ele também serviu como rastilho de pólvora e abriu caminho para muitas outras conquistas durante a década de 1990. No período, quase todas as taças possíveis foram parar na sala de troféus do clube. Teve Paulista, Brasileiro, Rio-São Paulo, Copa do Brasil e Copa Mercosul. Mas faltava a realização de um sonho. Para isso, o Palmeiras foi buscar Luiz Felipe Scolari no Japão em 1997. Dois anos depois, o time batia o Deportivo Cáli, nos pênaltis, e conquistava o título que faltava para a sua galeria: o da Taça Libertadores.

– É a “canonização” de São Marcos, que tinha virado “santo” contra o Corinthians (o Palmeiras eliminou o maior rival nas quartas de final naquele torneio, também nos pênaltis). E é o título que fecha o período de conquistas da “Era Parmalat” – recordou Noriega.

Jogadores comemoram título da Libertadores de 1999

Os ídolos

Para Wagner Vilaron sobrou a inglória tarefa de eleger aqueles que, na visão do comentarista, melhor honraram a camisa do Palmeiras. Mas apenas cinco deles.

Marcos chegou ao Palmeiras em 1992. Mas demorou nove anos até que ele assumisse a titularidade do gol da equipe. Só que bastaram três meses para que ele inscrevesse seu nome na lista de maiores ídolos do Verdão, onde ficou até 2012, tendo atuado em 532 partidas.

– O talento para fazer grandes defesas, especialmente em cobranças de pênalti, o levou a ser chamado de “São Marcos”. Conquistou de vez o coração do torcedor ao abrir mão de uma proposta do futebol europeu para defender o Palmeiras na Série B em 2003. Como se não bastasse, seu carisma e sinceridade o fizeram ser reconhecido até por torcedores de clubes rivais – analisou Vilaron.

Talento “Divino”

Ademir da Guia, Leão e Baldocchi nos tempos de Academia

No mesmo ano de 1942 em que o Palestra Itália mudou de nome para Palmeiras e sagrou-se campeão Paulista, nascia no Rio de Janeiro aquele que conduziria o clube em um de seus períodos mais gloriosos. Ademir da Guia herdou do pai, o zagueiro Domingos da Guia, considerado um dos melhores da história, o talento e a excelência no seu futebol. Conhecido como “Divino”, Ademir é quem mais vezes entrou em campo com a camisa do Palmeiras, com 901 jogos e é o terceiro maior artilheiro do clube, com 153 gols, atrás apenas de Heitor e César.

– Ícone do futebol técnico, da categoria com a bola nos pés. Um típico camisa 10. Liderou a equipe em um dos momentos mais sublimes de sua história: a Academia palestrina. Craque que faz o torcedor ter orgulho de dizer que pertence a seu time – definiu Vilaron.

O homem que transformou vaias em aplausos

O Brasil enfrentava a Inglaterra, em 13 de maio de 1959, no Maracanã. Mas para a surpresa de todos os presentes, a ponta-direita da Seleção naquele dia estava diferente naquele dia. Garrincha, o titular da posição, dava lugar ao paulista Julinho Botelho. O público não perdoou e começou a vaiar o jogador insistentemente. Mas o camisa 7 do Palmeiras não se incomodou. Com muita velocidade, força e habilidade, Juninho marcou um dos gols da vitória por 2 a 0 e sepultou as desconfianças, saindo aplaudido do estádio.

– Encantou o mundo do futebol com sua habilidade para dribles e ousadia ao partir para cima dos zagueiros. Só não é mais reconhecido porque teve a “infelicidade” de jogar na mesma época e posição que Mané Garrincha. Mesmo assim, saiu aplaudido do Maracanã quando teve de substituir o ídolo botafoguense em partida da seleção brasileira. Isso depois de ser recebido com sonora vaia.

O centroavante das decisões

Em 1991, o Palmeiras foi à Itália em busca de um centroavante. E conseguiu repatriar Evair, vice-campeão brasileiro em 1986 defendendo o Guarani. Não demorou para que o jogador de passadas largas e raciocínio rápido cair nas graças da torcida. Mas a consagração veio em 1993, quando o camisa 9 foi decisivo para a quebra do jejum de 16 anos sem títulos. Em 1999, Evair repetiu a dose e também ajudou na conquista inédita da Libertadores.

– A personalidade forte e o poder de finalização acima da média o transformaram em líder e símbolo de um time que entrou para a história do clube. O grupo de 1993 não só acabou com a incômoda fila sem títulos, como protagonizou a primeira grande parceria de gestão de um departamento de futebol com a iniciativa privada – relembrou Vilaron.

Evair marca durante o tempo normal e ajuda o Verdão a sair da fila

O zagueiro artilheiro

Luís Pereira chegou ao Palmeiras em 1968 vindo do São Bento, de Sorocaba. Sem saber, em pouco tempo ele se transformaria em um dos maiores jogadores da história do clube, participando do período glorioso de títulos da década de 1970, que rendeu ao Palmeiras o apelido de Academia, pela beleza do futebol apresentado pelo time em campo.

Exímio cabeceador, o beque por muitas vezes se lançava ao ataque na busca para ajudar seus companheiros. Por conta dessa vontade em ajudar os companheiros e dessa volúpia ofensiva, logo se transformou em ídolo, como Conta Vilaron.

– Segurança, bom posicionamento, eficiência no passe e liderança. Luís Pereira tinha todas as características esperadas de um grande zagueiro, não por acaso chegou à seleção. Somado a isso, durante os 10 anos em que defendeu o clube mostrou impulsão e qualidade no cabeceio que o fizeram ser importante também no ataque.

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