Copa da Alemanha

IMAGENS DA COPA

Os personagens que contaram a história dos 30 dias do mais fascinante espetáculo do planeta – Mundial em que o Brasil decepcionou e a Itália chegou ao tetra

Ao erguer com os companheiros a Taça da Fifa no domingo 9 de julho , o zagueiro  italiano Fabio  Cannavaro, 32 anos, apagou de vez uma imagem, histórica, a do Estádio Olímpico de Berlim como palco da suástica de Adolf Hitler, nos jogos de 1936. Ele agora é, para sempre, a arena do tetra italiano. Cannavaro celebrou também uma marca particular, exibindo orgulhoso, no braço direito, uma tatuagem com o nome da mulher, Andrea : foi sua centésima partida com a camisa azul da Itália. Mergulhado na mais espantosa crise de corrupção de todos os tempos, o calcio conquistou o título nos pênaltis, e está na cola do Brasil. Com 12 gols marcados e apenas 2 sofridos, a Itália foi, sem dúvida, a melhor equipe de 2006.

Não deu espetáculo, não jogou bonito, mas venceu com sobra. Corre risco, hoje, em uma situação insólita, de ter 13 campeões mundiais – jogadores da Juventus, do Milan e da Fiorentina – na segunda e terceira divisões.

A REVOLUÇÃO POPULAR DE KLISNMANN

Jurguen Klisnmann fez mais pela Alemanha que todos os políticos juntos em 60 anos de história, desde o fim da segunda guerra mundial. A Klinsmannshaft, a seleção de Klinsmann, jovem e alegre, gerou um saudável e inédito patriotismo germânico.  Ao final da vitória por 3 a 1 diante de Portugal, garantindo o terceiro lugar  aos alemães, o público no estádio exibia cartazes com um pedido ´´ Fica, Klins“ ! No dia seguinte, diante de 500 mil pessoas em Berlim, a equipe agradecia  com camisetas em que podia ler ´´danke“ (obrigado). A Alemanha é outra depois da Copa.

0 – A Suíça foi o primeiro país a ser eliminado de uma Copa ser ter levado um único gol – caiu nas oitavas diante da Ucrânia, nos pênaltis

5 – O alemão Miroslav Klose, nascido na Polônia, deixa a Copa como artilheiro Da competição – ele tinha marcado outros 5 em 2002

9 – Com a vitória da Itália, os países da Europa igualaram o número de títulos conquistados pelas seleções da América do Sul.

2,30 – foi a média  de gols na Copa da Alemanha, superior apenas ao índice  de

2,21 na Copa de 1990, na Itália.

16 vitórias em quatro Copas (1994, 98, 02 e 06 ) deram ao lateral Cafu o rótulo do jogador com maio número de sucessos seguidos m Mundias

90 eram os quilos de Ronaldo nas partidas diante do Japão e de Gana, depois de duas semanas treinando com agasalho, para emagrecer

1500 euros era o que pedia em cambista para a partida final em Berlim, valor  dez vezes maior que o preço original do ingresso

52.500 pessoas foi a média de público na Copa de 2006, inferior apenas ao Mundial dos Estados Unidos, em 1994

FELIPÃO, O HOMEM DE DUAS PÁTRIAS

Luiz Felipe Scolari, o Felipão, levou o Brasil ao pentacampeonato mundial de 2002. No comando da seleção portuguesa, deu ao seu país de adoção a auto-estima esquecida em algum canto da alma, lusa sempre melancólica e desesperançosa. Scolari fez a terra de Pessoa e Camões redescobrir-se com o quarto e honroso lugar na Copa.

Tudo indica que ele renovará contrato  por pelo menos outros quatro anos, até 2010. Com 12 partidas seguidas sem derrota- sete pelo Brasil e cinco por Portugal – bateu o recorde entre treinadores. Com seu jeito desengonçado, desembarcou em Lisboa como herói, liderando seus atletas diante de 20 mil torcedores.

NÃO CHORE POR NÓS, ARGENTINA

As Copas sempre produzem eliminações e derrotas injustas. Foi assim com o Brasil em 1982, com a Hungria em 1954 e com a Holanda em 1974. Desta vez, o planeta lastimou a desclassificação prematura da Argentina de Mascherano e Tevez. A imagem de choro dos argentinos depois da derrota nos pênaltis contra a Alemanha, nas quartas-de-final ( cena de tristeza que não se viu com os brasileiros, vítimas da soberba ) foi o momento mais triste do verão Europeu de 2006.

O ESTIGMA DE RONALDINHO GAÚCHO

O mundo inteiro apostou em Ronaldinho Gaúcho como o grande craque da Copa da Alemanha. Ele fez muito pouco, quase nada. Tinha um peso imenso a sustentar – não o físico, mas o da pressão planetária – e não suportou. Deu o passe para o gol de Gilberto Silva contra o Japão, na vitória por 4 a 1, e só. Carregará, por pelo menos outros anos, o estigma de brilhar apenas em clubes – apesar da boa atuação em 2002, no mundial do Japão e Coréia, quando ainda era coadjuvante. O alento : aos 26 anos tem pelos outro Mundial pela frente. Nada que apague, para os amantes do jogo bonito, as estripulias que ele já fez e fará com a bola.

ZIDANE PERDE A CABEÇA

Zidane, o elegante, o gênio dos gramados, deixou o futebol de um modo melancólico. Aos 5 minutos do segundo tempo da prorrogação, deu uma cabeçada no zagueiro italiano Materazzi. Expulso de campo, deixou seus companheiros órfãos.

Havia marcado o gol da França, de pênalti, logo aos 7 minutos de partida e caminhava para a glória até cometer a maior bobagem  em 18 anos de carreira. Campeão do Mundo em 1998 e vice em 2006, desenhou uma trajetória de cinema. Depois do auge mo mundial francês, veio o fracasso em 2002 e o renascimento na Alemanha, aos 34 anos. Merecia um adeus mais digno, menos dramático. Até os deuses erram. Ainda assim, saiu da Alemanha com o título de melhor jogador da Copa e foi recebido como herói em Paris.

AS LIÇÕES DA ALEMANHA

Um olhar atento ao que ocorreu em 2006 pode ajudar a África do Sul e o Brasil a organizar as duas próximas Copas

A intensa chuva berlinense de sexta-feira 7 servia de trilha sonora do discurso do presidente da África do Sul, Thabo Mbeki, ao revelar  para o mundo o logotipo oficial da Copa do Mundo em 2010, marcada para seu país. ´´Será um milagre realizá-la.“ disse. ´´Faremos um Mundial com força semelhante ao retorno da democracia em nosso país, com o fim do Apartheid em 1994.“ Mbeki admite que a missão será complicada. E o motivo é simples : há agora o fabuloso parâmetro do Mundial da Alemanha. ´´Puseram a barra de qualidade lá em cima. Nunca mais será fácil alcançá-la, disse. Rumores desmentidos pela Fifa indicavam um plano de contingência para transferir o próximo Mundial, o primeiro em solo africano, para a Austrália, caso os sul-africanos não sejam capazes de organiza-lo. Entre o Show de eficiência  alemão e as incertezas africanas, o Brasil pode descobrir o atalho para levar a Copa de 2014. Por isso,  um olhar atento ao que ocorreu no verão alemão de 2006 pode ajudar – e muito  – os dois países  a montarem uma competição de respeito.

Terceira em campo, a Alemanha tem muito a comemorar fora dele. Pelas contas do Ministério da Economia, a Copa dará no PIB alemão (US$  2,7 trilhões no ano passado) uma injeção adicional de algo entre 0,38 % ( US$ 10,6 bilhões) e 0,5 % (US$ 13,5 bilhões. Mais de 91% dos visitantes disseram ter sido bem recebidos – unanimidade foi a organização, considerada perfeita, com elogios especiais ao transporte aos estádios. ´´ O maior ganho foi a imagem positiva que o mundo extraiu da Alemanha “, admite Henirich Bayer, do Postbank.´´ Soubemos aproveitar a oportunidade“.

Empresa como a Adidas, patrocinadora e fornecedora, ainda mais. Em 2006, terá crescimento de 30% em seu faturamento em relação ao US$ 1,8 bilhão de 2005. Mesmo a primeira-ministra, Angela Merkel, aproveitou a animação para aumentar impostos na surdina. Apesar de a pobreza o transporte deficiente e os estádios precários colocarem em dúvida a competição na África do Sul. O Mundial de 2010 poderá injetar US$ 3,5 bilhões no país de Nelson Mandela e gerar 200 mil novos empregos. Um fenômeno com chance de se repetir no Brasil se o casamento do público com o privado se der sem cismas. Os cartolas da Fifa, sentados em cima dos US$ 2,17 bilhões já garantidos para seus cofres em 2010 e 2014, por conta dos patrocínios, direitos de televisão e ingressos, gostam de empurrar parcela da responsabilidade para os poderes públicos. Não há dúvida que a participação do Estado será sempre vital. Mas, a rigor, o que ainda falta a sul-africanos e brasileiros é empenho da iniciativa privada. Na Alemanha, ele fez diferença. O governo colocou  US$ 600 milhões do US$ 1,5 bilhões gasto com estádios. No final, investiu apenas 20% do total gasto na realização do torneio.

Percebe-se os caminhos tortos que o Brasil costuma trilhar quando os olhos se voltam, por exemplo, para organização dos Jogos Pan-Americanos de 2007, no Rio de Janeiro. O orçamento público abrigará quase 100% das despesas, hoje estimadas em  R$ 2,5 bilhões. O governo federal arcará com R$ 1,29 bilhão, o que representa mais de 50% do orçamento – no início do projeto, a parte se resumia a 17 %. Se o Brasil quiser organizar a Copa de 2014 terá que reinventar seu modo de fazer parcerias entre o público e o privado. Na semana passada, em Berlim, induzido a dizer se o Brasil tem condições de erguer novos estádios – os atuais não servem para uma Copa -, o ex-Presidente  da Fifa João Havelange disse o seguinte ´´Isso quem tem que responder é o Presidente, os governadores e os prefeitos“. A verba do Estado é crucial, mas as empresas devem topar perder dinheiro agora para ganhar – e muito – lá na frente. Foi assim na Alemanha. Funcionou. – se para que assim seja na África do Sul – e, se for confirmado para 2014, no Brasil.

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