Ex-assessora revela veto a Alain Prost na primeira fila do caixão de Senna

Maior rival de Ayrton Senna nas pistas da Fórmula 1, Alain Prost fez as pazes com o antigo algoz e se tornou um amigo próximo nos últimos meses de vida do brasileiro. Em sinal de respeito ao tricampeão mundial, morto no fatídico GP de San Marino de 1994, o ex-piloto francês fez questão de vir ao Brasil para o enterro. Vinte anos depois, a ex-assessora de Ayrton, Betise Assumpção, revela que Prost teve que ser retirado por ela da primeira fila dos carregadores do caixão.

Betise precisou intervir na distribuição de posições dos pilotos no enterro de Senna

Assessora do piloto na época do acidente em Ímola, Betise relatou em seu blog que o austríaco Gerhard Berger, companheiro de Ayrton na McLaren entre 1990 e 1992, questionou a escolha de Prost e do tricampeão mundial Jackie Stewart – com quem Senna também se desentendeu publicamente – para compor a primeira fila dos carregadores. Por intervenção da assessora, Berger e o bicampeão Emerson Fittipaldi, compatriota e apoiador do início da carreira de Senna, foram então escolhidos.

– Depois de fazer o trajeto, ladeado por centenas de milhares de pessoas, o carro de bombeiros carregando o corpo  do Ayrton chegou ao cemitério. Gerhard Berger, o melhor amigo de Ayrton na F-1, veio correndo para mim, indignado. “Betise , você tem de fazer alguma coisa. Fulano/a (este nome vai permanecer anônimo, mas gostaria de acrescentar que não foi ninguém da família  de Senna ) me disse que Alain (Prost) e Jackie (Stewart) serão os homens de frente carregando o caixão! Aparentemente, é por ordem de quem ganhou mais títulos Mundiais!! Você tem que mudar isso. Eles são as duas pessoas que o Ayrton mais odiava; que mais complicaram a vida dele – escreveu Betise.

“Nada pode me separar do amor de Deus”, inscrição na lápide de Ayrton Senna

A assessora, que atualmente é casada com Patrick Head (diretor de engenharia da Williams e um dos projetistas do carro em que Ayrton se acidentou), lembra que precisou articular uma forma de impedir que Prost e Stewart estivessem na primeira fila. Ela organizou, então, uma nova distribuição de posições, colocando Berger e Fittipaldi em evidência, e relegando o francês à segunda fila. A formação definitiva teve, na ordem, Fittipaldi, Prost, Christian Fittipaldi, Jackie Stewart, Roberto Moreno, Johnny Herbert e Wilson Fittipaldi à esquerda, e Gerhard Berger, Rubens Barrichello, Thierry Boutsen, Raul Boesel, Michele Alboreto, Pedro Lamy e Damon Hill à direita.

– Não havia nenhuma dúvida em minha mente que Gerhard tinha de estar bem na frente, pole position absoluta. Ele tinha participado da maioria dos bons momentos do Ayrton dentro e fora das pistas. Se o critério era Campeonato Mundial, então eu colocaria Emerson Fittipaldi, do outro lado. Atrás de Emerson um piloto estrangeiro; atrás de Gerhard , um brasileiro. Boutsen [contemporâneo de Senna na F-1] tinha sido também um bom amigo de Ayrton. Então, eu o coloquei atrás do Rubinho, que estava atrás de Gerhard. Prost veio depois de Emerson…

Após uma intensa mobilização popular pelas ruas de São Paulo, Ayrton Senna foi enterrado no Cemitério do Morumbi no dia 5 de maio de 1994. Na última semana, quando o acidente fatal na curva Tamburello completou 20 anos, Betise relatou em detalhes um dos momentos mais delicados após a tragédia: o instante em que Bernie Ecclestone, chefão da Fórmula 1, antes da corrida terminar, lhe pediu para traduzir a seguinte mensagem para Leonardo, irmão de Senna: “He is dead” (Ele está morto). De acordo com a jornalista, Bernie admitiu que a informação sobre a confirmação do óbito seria ocultada para que a corrida não fosse interrompida.

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