Jornalismo esportivo, romantismo e apologia da pobreza

Hugo Lovisolo – Professor da Faculdade de Comunicação Social da Uerj

Ronaldo Helal – Professor da Faculdade de Comunicação Social da Uerj

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Resumo: O universo esportivo é um dos terrenos mais férteis da nossa era para a produção de discursos carregados de premissas românticas que, de modo forte, circulam no campo do jornalismo especializado.

…Na esteira do discurso romântico, observa-se, no caso brasileiro, a ênfase posta na origem popular e pobre, de baixo para cima, de nossos ídolos futebolísticos. A dimensão dada à pobreza inicial é usada como um fator importante para a “criação” de grandes craques do futebol brasileiro. O perigo destas narrativas é que se esticarmos a argumentação um pouquinho mais, terminamos fazendo uma apologia da pobreza. Os grandes craques surgem
da pobreza. O que fazer quando e, se, o Brasil erradicar a pobreza? Não mais teríamos grandes jogadores? Perderíamos o tão comentado “jogo bonito”?
… O discurso romântico surgiu como reação ao discurso da ilustração baseado na razão e no pensar com autonomia, livre dos vínculos da tradição, a autoridade e o preconceito e apontando para o progresso e a mudança da sociedade. Os argumentos românticos se incorporaram de cheio às reações, tanto conservadoras quanto progressistas, às forças da mercantilização e da industrialização, enfim, do mundo dos negócios e do progresso que usaram os argumentos da ilustração a seu favor. Três valores eram centrais para o romantismo, já presentes no discurso anunciador de Herder, como foi salientado por Berlin (1982): o do populismo, o do pertencimento e o da autenticidade.
…Aplicados ao campo do esporte nos guiam para entendermos que o esporte apenas pode ser nosso e bom quando surge das entranhas do povo, pertence a nossa cultura e a ele pertencemos e, por fim, quando o ato esportivo resulta da autenticidade do atleta que joga por valores intrínsecos (amor, gosto ou prazer) ao invés de fazê-lo por valores extrínsecos ou utilitários, como as retribuições que vigoram no profissionalismo
(Lovisolo, 2002).

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