Polícia prende suspeito de liderar esquema de venda ilegal de ingressos

A Polícia Civil do Rio de Janeiro prendeu na tarde desta segunda-feira a pessoa que é suspeita de fornecer ingressos para um esquema internacional de venda ilegal de entradas da Copa do Mundo de 2014: o inglês Raymond Whelan, de 64 anos, consultor executivo da Match Services, empresa que tem contrato com a Fifa para comercialização de bilhetes do Mundial até 2023 . O executivo estava hospedado no Copacabana Palace, onde os agentes encontraram 82 ingressos do torneio (vips e comuns), um computador e um celular em seu quarto durante o procedimento de busca e apreensão. Ele teve seu passaporte apreendido, a prisão temporária de cinco dias decretada e vai dormir na delegacia. Na manhã de terça, o britânico será encaminhado à Polinter para dar entrada no sistema penitenciário.

De acordo com as informações da polícia, Ray é o fornecedor da quadrilha chefiada pelo empresário argelino Mohamadou Lamine Fofana, detido na semana passada – no celular de Fofana, seu número estava salvo como Ray Brasil. Segundo o delegado Fábio Barucke, responsável pelo caso, Whelan foi flagrado em escutas telefônicas – autorizadas pela justiça – negociando ingressos com o argelino. Pelo artigo 41-G do Estatuto do Torcedor, a pena para o crime de “fornecer, desviar ou facilitar a distribuição de ingressos para venda por preço superior ao estampado no bilhete” é de dois a quatro anos de prisão, além de multa. O suspeito vai responder ainda por associação criminosa e outras pessoas seguem sendo investigadas. Em nota oficial, a Fifa afirmou que “continua colaborando plenamente com as autoridades locais e fornecerá todos os detalhes solicitados para auxiliar nesta investigação em andamento”.

– Whelan está sendo defendido por dois escritórios de advocacia. Há, no entanto, um conflito sobre a decisão de ele depor ou não. Se resolver depor, pode falar ainda nesta segunda. Caso contrário, falará apenas em juízo. Além do artigo 41-G do Estatuto do Torcedor, o suspeito vai responder ainda por associação criminosa. São pelo menos mais sete. Ray não é o chefe, mas é o elo facilitador – resumiu Barucke, que não descarta ouvir Phillip Blatter, sobrinho do presidente da Fifa, Joseph Blatter, e ligado à Match.

Hospedado no quarto 514 do Copacabana Palace, o inglês foi abordado pelo delegado e pelo promotor Marcos Kac na área comum do hotel. No momento da prisão, se mostrou surpreso e negou qualquer ligação com o esquema. Whelan vem ao Brasil regularmente desde 2012 e tem dois filhos, Paul e Ellen, possivelmente também diretores da Match Services, que possuem residências na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. A polícia pediu ao Copacabana Palace as imagens das câmeras de segurança do período que o inglês ficou hospedado.

–  Informalmente, ele negou que seja amigo do Fofana e que tenha feito negociações com ele, mas temos provas disso. Foram 900 ligações entre os dois. Confirmou apenas que a empresa do argelino (Atlanta Sportif Management) comprou ingressos para a Copa e que conhecia o empresário pelo fato de ele sempre transitar no Copacabana Palace e entre jogadores – disse.

Ray Whelan chega na 18ª DP do Rio após ser preso no Copacabana Palace

Por volta das 16h50, três policiais deixaram o hotel pela porta principal e comunicaram que Raymond havia sido encaminhado para a 18ª DP (Praça da Bandeira), na Zona Norte da capital carioca, após ter saído com outros agentes por um portão alternativo. No total, dez inspetores participaram da operação e um deles chegou a ficar no corredor do hotel, à paisana, para evitar qualquer tentativa de fuga do suspeito. O inglês, vestido com uma camisa da Match, chegou à delegacia uma hora depois. A expectativa é de que a investigação seja concluída até o dia 13 de julho, data da final do Mundial.

Em comunicado, a Match disse acreditar que os fatos vão mostrar que Ray não cometeu nenhuma violação das leis brasileiras e afirmou que a polícia chegou a conclusões precipitadas, mas garantiu dar total apoio às investigações. No fim da tarde, o presidente da Fifa, Joseph Blatter, preferiu não comentar o caso e desconversou ao ser questionado.

– Cavalheiros, hoje estive no Football for Hope, no Caju (bairro do Rio de Janeiro). Foi maravilhoso! Por favor, falem de futebol – disse Blatter ao jornal “Folha de S. Paulo”.

Jérôme Valcke, secretário-geral da Fifa, revelou também ao jornal que soube da prisão de Ray Whelan pela imprensa, e que a entidade emitirá um comunicado oficial sobre o assunto. Confira abaixo a nota oficial divulgada pela entidade sobre a prisão:

“A Fifa tomou conhecimento de que Ray Whelan, diretor do escritório de Acomodação da Match Services, provedora de serviços para a Fifa, foi levado do hotel Copacabana Palace pela polícia para prestar depoimento por suposta participação no que diz respeito à ‘Operação Jules Rimet’.

A Fifa continua colaborando plenamente com as autoridades locais e fornecerá todos os detalhes solicitados para auxiliar nesta investigação em andamento.

Conforme mencionado em diversas ocasiões, a Fifa gostaria de reiterar sua posição firme contra qualquer forma de violação de lei criminal e do regulamento de emissão dos ingressos. A Fifa está apoiando totalmente as autoridades de segurança nos nossos esforços conjuntos para reprimir todas as vendas de ingressos não autorizadas”.

Entenda o caso

A operação “Jules Rimet” da polícia do Rio de Janeiro prendeu na semana passada 11 pessoas, entre eles argelino Lamine Fofana, o que desencadeou o restante da investigação e a denúncia de membro da Fifa no esquema. Com os suspeitos, foram apreendidos tíquetes fornecidos como cortesia a patrocinadores e a Organizações Não Governamentais (ONGs). Segundo a polícia, o esquema funcionava há quatro Copas. Lotes de ingressos eram vendidos por valores que variavam entre R$ 500 mil e R$ 700 mil – com uma margem de lucro de até 1000%. O faturamento chegava a R$ 2 milhões por partida no Mundial no Brasil.

De acordo comreportagem veiculada na noite de domingo, no “Fantástico”, centenas de ligações entre Fofana e um número de serviço da Fifa foram registradas. Nesta segunda, a Fifa revelou ter entregue a lista com todos os números de telefone solicitada pelas autoridades na investigação.

A Match Hospitality é a empresa escolhida pela Fifa para vender ingressos da Copa e fornecer acomodação para as federações, além de cuidar de camarotes e clientes VIP (5% das ações são da Infront Sports & Media AG, que tem como CEO o suíço Philip Blatter, sobrinho do presidente da Fifa, Joseph Blatter). A subsidiária Match Services, comercializa entradas para o público em geral e hospedagem, é 100% controlada pela Byrom Holdings, dos irmãos mexicanos Jayme e Enrique Byrom.

Em seu site oficial, a Match Services descreve-se como “empresa de serviços profissionais nomeados pela Fifa para fornecer bilhetes, alojamento e serviços de tecnologia da informação. Com sede em Zurique, Suíça, foi formada com a finalidade de prestação de serviços à Fifa”.

Confira a nota oficial divulgada pela Polícia Civil do Rio sobre a prisão de Whelan:

Policiais da 18ª DP (Praça da Bandeira) prenderam, na tarde desta segunda-feira (07/07), o inglês Raymond Whelan, 64 anos, consultor executivo da empresa Match Service. O inglês foi preso numa suíte do Copacabana Palace Hotel.

Contra Whelan foi cumprido um mandado de prisão temporária pelo artigo 41-G (Fornecer, desviar ou facilitar a distribuição de ingressos para venda por preço superior ao estampado no bilhete), do Estatuto de Defesa do Torcedor. Na suíte dele, os policiais apreenderam 82 ingressos para jogos da Copa do Mundo, um computador, um celular e documentos. Todo material será periciado.

De acordo com o delegado Fábio Barucke, responsável pela investigação, Whelan era um facilitador para a quadrilha ter acesso e vender os ingressos, já que a Match presta serviços para a Fifa.  A ação faz parte da “Operação Jules Rimet”, desencadeada na semana passada, que resultou na prisão de 11 pessoas envolvidas no esquema ilegal de venda de bilhetes do mundial.

Barucke afirma ainda que, durante as investigações, Whelan foi flagrado nas escutas telefônicas autorizadas pela Justiça, negociando ingressos com o argelino Mohamadou Lamina Fofana, um dos presos na Jules Rimet.

O mandado de prisão de Raymond Whelan foi expedido pelo Juizado Especial do Torcedor. O inglês foi levado para a 18ªDP (Praça da Bandeira). Segundo o delegado, a Fifa forneceu, nesta segunda-feira, a listagem de números de telefone requerida pela polícia. As investigações continuam em andamento.

Policiais deixam o Copacabana Palace depois da operação que prendeu executivo da Match
Carro da polícia estacionado na porta do Copacabana Palace antes da prisão do inglês

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