Apaixonado pelo futebol brasileiro, jornalista português fala da publicação sobre jogador de apenas 21 anos, definido como “Popstar”

Encontrar fãs do futebol brasileiro ao redor do mundo não é uma tarefa muito complicada. Dono de cinco títulos mundiais e pátria de alguns dos melhores jogadores da história, o Brasil tem atributos suficientes para ser admirado. A maioria dos estrangeiros, no entanto, não vai além deste tipo de relação. Mas este não é o caso do português Luis Miguel Pereira, que acaba de lançar “Neymar Total”, da editora Primebooks, a primeira biografia do craque de 21 anos que chega ao Barcelona neste mês.

O jornalista esportivo pode ser considerado um obcecado por contar histórias. Já são 30 livros sobre futebol nos últimos 10 anos, alguns deles relacionados ao Brasil, como “Bíblia da Seleção Brasileira” e “Bíblia do Flamengo”.

“Acompanho o futebol brasileiro desde criança e o principal responsável chama-se Zico. Era o meu ídolo de infância. Acompanhei a carreira dele como se estivesse ali do lado, num tempo em que não havia internet e por isso o acesso à informação era muito mais difícil. Mas recordo-me de comprar a revista ‘Onze’, francesa, que era totalmente a cores, com fotos magníficas, e recortar as fotografias do Zico, do Flamengo e daquela inesquecível Seleção Brasileira da Copa de 1982”.

Não é difícil entender como um garoto de 12 anos se encantava com a equipe que jogou bonito, mas não levou o Mundial da Espanha, ou com o esquadrão rubro-negro campeão do mundo. Mas como um atleta ainda em formação e evolução chamou a atenção de um jornalista além-mar?

“Recordo-me de acompanhar a Copa São Paulo de Futebol Júnior, que foi sempre um viveiro incrível de novos talentos. E no torneio de 2008, chamou a atenção de todos um garoto franzino, cabelo raspado, com apenas 15 anos. Bem sei que aos 15 anos todos os sonhos são legítimos e quase todos não passam disso mesmo, de sonhos. Mas aquele menino dificilmente enganaria. Fiquei atento. Os anos seguintes confirmaram o talento.”

Aos 43 anos, Luis Miguel Pereira também já escreveu outras biografias, como as dos técnicos José Mourinho e André Villa-Boas, figuras com histórias bem mais consolidadas. Mesmo assim, o autor considera que o brasileiro já tem passagens suficientes para atrair o grande público.

“Neymar tem 21 anos, mas conta com uma história muito rica, dentro e fora do campo. Além disso, esta é uma biografia diferente, apresentada num formato distinto, mais adaptado àquele que é o público-alvo. Não tanto pelo fato do Neymar ser mais novo, mas por ser diferente dos outros. Neymar tem uma história muito ‘colorida’, muito popstar.”

Quanto a este formato inovador, o escritor antecipa algumas novidades do livro, que estará nas livrarias espanholas a partir da próxima semana.

“Há um (capítulo) ‘Golmetro Neymar’, que nos ajuda a entender quais foram os minutos mais produtivos para ele na marcação de gols e quais aqueles minutos em que ele nunca marcou. Há o Neymar Twitteiro, o Neymar Solidário, o Neymar Musical, o Neymar Ator, o Neymar Negócio, o Calendário Neymariano… e depois, claro, a família, os amigos (“É toiss”), os gols vistos de todas as formas, as capas de jornais e revistas mais curiosas que ele fez, e muitas, muitas frases dele e de gente famosa sobre ele. Ou seja, tem tudo o que um fã de Neymar precisa saber”.

Mesmo alimentando todas essas curiosidades, Pereira não esquece a qualidade crítica de jornalista. Ele ainda vê espaços para evoluções do novo barcelonista. Entre as carências, são destacadas a necessidade de aprimoramento tático, defensivo e físico. O português discorda de muitos da mídia brasileira, que consideraram um absurdo a ausência de Neymar na reta final dos últimos prêmios da Fifa de melhor do mundo.

“A prova esteve na final do Mundial de Clubes, entre Barcelona e Santos (4 x 0, em 2011), em que, apesar de todo o talento, Neymar foi totalmente impotente. Ficaram nu às enormes diferenças táticas, técnicas, físicas e de maturidade entre os dois times. Ficou claro que Neymar ainda tinha uma fila enorme à sua frente para integrar o grupo dos três indicados ao prêmio de melhor do mundo, com Messi e Ronaldo, e depois Iniesta, Xavi, Ibrahimovic, Balotelli…”

Mas a atuação do camisa 10 do Brasil na Copa das Confederações traz o atleta a um novo patamar. O torneio, que é o capítulo final da obra biográfica, mostrou um Neymar capaz de enfrentar, e superar, grandes defensores, esquemas táticos e adversários. O desempenho na competição até o ato decisivo, a goleada por 3 a 0 sobre a Espanha, teve enorme repercussão na Europa.

“Até porque surgiu num momento em que os campeonatos estão parados e todas as atenções se concentraram nesse torneio. Depois havia enorme expectativa para saber se a toda poderosa Espanha conseguiria manter o posto de líder. E o Brasil, jogando em casa, era o adversário ideal para esse desafio. Em Portugal, a competição foi transmitida em TV aberta e com ótimas audiências. Scolari ainda é muito querido em Portugal, o Brasil também, e Neymar é o novo amor da torcida.”

Desta forma, Luis Miguel Pereira projeta o status do brasileiro na chegada ao Barcelona, após ser contratado por 57 milhões de euros. Para o jornalista português, o ex-santista desembarca na Europa como um misto de promessa, opção e solução.

“Uma promessa porque na realidade ainda não é um valor totalmente confirmado, ele vem para um futebol diferente, com exigências diferentes e terá que provar os ótimos indicadores que deixou até aqui; uma opção porque tem futebol suficiente para resolver partidas e, seguramente, irá resolver muitas; e uma solução porque este time do Barcelona apresenta sintomas de ‘fim de ciclo’, tem que iniciar rapidamente uma renovação e os 21 anos de Neymar se encaixam com perfeição na parte da solução deste problema.”

Com sondagens para publicações no Japão e na Polônia, “Neymar Total” já tem previsão de ser lançado em outras edições, especialmente o português. Para o mercado brasileiro, a biografia, que virá com um capítulo personalizado, chegará antes do fim do ano.

Luis Miguel Pereira, autor de “Neymar Total”

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