Copa de 1970: A Jules Rimet para sempre

Sempre que perguntavam a João Saldanha por que o tinham tirado da seleção brasileira, às vésperas da nona Copa do Mundo, ele respondia, muito ao seu jeito: “Por que me tiraram, eu sei. O que não sei é por que me botaram lá”. Referia-se ao convite que o diretor de futebol da CBD, Antônio do Passo, lhe fizera para ser o novo treinador da seleção. É verdade que ninguém esperava que o presidente João Havelange o incumbisse de tal missão. Mas não é menos verdade que Saldanha não ficou surpreso (tinha sido sondado meses antes), nem desconhecia as razões por trás do convite.

E a escolha não tinha relação com a política. Quer dizer, com a grande política, aquela que acabara de mergulhar o país na escuridão do AI-5. Por essa, como opositor da ditadura e membro do Partido Comunista, Saldanha jamais teria passado pela porta da sede da Rua da Alfândega. Mas a outra política, a do futebol, abria a possibilidade de se resolver o problema que a CBD e, por extensão, a seleção brasileira vinham enfrentando: o descrédito e a impopularidade.

Havelange voltou da Inglaterra, onde pela primeira vez chefiara a delegação a uma Copa do Mundo, sem saber que rumo dar ao futebol brasileiro. O primeiro round de sua luta regionalista com Paulo Machado de Carvalho estava perdido. A péssima campanha brasileira em Liverpool provara que ele estava errado em preferir Vicente Feola a Aimoré Moreira. Aimoré era o protegido do dirigente paulista, de modo que o fracasso de Feola só vinha reforçar que, na luta pelo poder no futebol brasileiro, o “Marechal da Vitória” sabia muito mais que o presidente da CBD. E sabia mesmo.

Confuso quanto ao que fazer, Havelange tentou alguns caminhos. Segundo revela a “História Institucional da CBD”, livro publicado em 2006, ele cuidava da difícil tarefa já sob a vigilância dos agentes do Serviço Nacional de Informação (SNI), pois o fracasso na Inglaterra 1966 quase resultara em inquérito parlamentar para que se achassem os culpados. Até retratação pública, de dirigentes, treinadores e jogadores, foi sugerida como medida para que a seleção brasileira não repetisse em 1970, no México, os pecados de 1966.

O que de melhor Havelange pôde encontrar, logo depois de tentar regionalizar seleções para alguns amistosos, foi a criação da Comissão Selecionadora Nacional (Cosena). Tratava-se de novo grupo de trabalho com Paulo Machado de Carvalho à frente (levar o dirigente de volta à seleção não deixava de ser um pedido de desculpas de Havelange a quem sabia mais). Nela, obviamente,

o treinador seria Aimoré. Osvaldo Brandão, o supervisor. Passo, o diretor. Mario Jorge Lobo Zagallo e Evaristo Macedo, os observadores táticos. Todos com direito a opinião, fosse quanto a jogadores ou quanto a sistemas e estratégias, não podia funcionar.

Ao lado de alguns bons resultados, pelo menos três tropeços fizeram parte do balanço da Cosena: derrotas para Alemanha Ocidental, Tchecoslováquia e México na excursão que a seleção cumpriu pela Europa e Américas. Depois disso, ainda houve outro fracasso: nova derrota para o México em pleno Maracanã. Quem acreditava na seleção? Talvez os poucos que a foram ver num amistoso com o combinado da Fifa. No fim de 1968, sem relação com o AI-5, Paulo Machado de Carvalho demitiu-se do que seria sua última chefia. E Havelange desfez a Cosena. Era preciso recomeçar do zero, mas, em ano de eliminatórias e com o prestígio da seleção em baixa, como?

O nome de João Saldanha surgiu como por encanto. Pouco importava se não gostava dos militares, se era contra a ditadura, se tinha ou não carteirinha do Partidão. Era, por várias razões, o nome certo. Conhecia futebol, era o comentarista de rádio mais popular, figura carismática da qual todos, até os inimigos, gostavam. Sua experiência como treinador era pouca, mas o bastante para dar ao seu Botafogo o título de campeão carioca de 1957. Foi nisso, em busca da popularidade perdida, que Havelange e Passo pensaram.

Um ponto escapara à observação dos dois dirigentes da CBD: a independência de Saldanha. Nem imaginaram que a principal causa da credibilidade que o novo treinador devolveria à seleção, transformando-a em legítima representante do homem das arquibancadas, estava justamente na independência, em ser um anticartola, um homem que jamais aceitaria as pressões que tradicionalmente eram feitas sobre os treinadores. Por isso, seu primeiro ato ao ser apresentado à imprensa por Havelange e Passo foi puxar do bolso um papel com os nomes de seus 22 futuros convocados: Félix, Carlos Alberto, Djalma Dias, Brito, Rildo, Wilson Piazza, Gérson, Dirceu Lopes, Pelé e Tostão, os onze titulares; e Cláudio, Zé Maria, Scalla, Joel (o do Santos), Clodoaldo, Paulo César Caju, Paulo Borges, Toninho, Rivelino e Edu, os reservas. É claro que alterações aconteceriam durante as eliminatórias, mas sem que os cartolas soprassem nomes no ouvido do treinador.

A resistência sofrida por Saldanha no início, vinda principalmente de São Paulo, logo seria vencida. O “Jornal da Tarde”, que recebera sua indicação com uma manchete histórica (“Perdemos a seleção!”) não tardaria a elogiá-lo. Pelas seis vitórias nos seis jogos das eliminatórias e pelo apoio popular que a seleção brasileira tinha como nunca tivera. A vitória no amistoso com a Inglaterra, campeã do mundo, num Maracanã lotado, empurrava para o passado o desempenho da seleção da Cosena contra os mexicanos no mesmo estádio.

As 180 mil pessoas que foram ver o último jogo com o Paraguai, 1 a 0, gol de Pelé, cantaram o hino nacional em coro, numa época em que o brasileiro,

calado pela ditadura, via em todo ato cívico um apoio a ela. Eram tempos tão absurdamente insólitos que, enquanto o torcedor hesitava em apoiar a seleção, os militares no poder estavam satisfeitos. O futebol fazia o povo feliz? Que assim fosse. No fundo, no fundo, a vitória de Saldanha era boa para o regime. Logo, deixaram que ele trabalhasse em sossego.

Esse apoio durou até o reinício dos trabalhos, nos primeiros dias de 1970. Tudo mudou, então. A seleção sofreu para a Argentina, em Porto Alegre, a primeira derrota (2 a 1) sob sua direção. Quatro dias depois, no Maracanã, devolveu o placar aos seus mais tradicionais adversários, mas um desentendimento entre Saldanha e Pelé sobre como o time deveria jogar no segundo tempo foi sintomático. A proposta de Pelé prevaleceu. Num jogo-treino em Bangu, empate de 1 a 1, Saldanha cobrou, com ironia, que Pelé corrigisse com suas táticas os erros do time. Àquela altura, as coisas já estavam praticamente incontornáveis. E por fatos que se acumulavam desde o ano anterior.

Primeiro, foi o descolamento de retina que afastou Tostão. Seria operado em Houston, Texas, e não voltaria ao time tão cedo. Saldanha perdia seu ponto de referência no ataque, artilheiro nas eliminatórias, e não conseguira recompô-lo com Dirceu Lopes ao lado de Pelé. Como o general presidente, Emílio Garrastazu Médici, dera entrevista falando de sua admiração por Dario, do Atlético Mineiro, Passo pôs-se a pressionar o treinador para convocá-lo (ganhou os jornais a réplica de Saldanha: “O presidente escala o ministério dele e eu escalo o meu time”). Um jogador que Saldanha tinha como um dos seus atacantes para o México, Toninho Guerreiro, foi cortado pelo médico Lídio Toledo, à revelia do treinador. Motivo: sinusite. Abria-se uma vaga para Dario, mas Saldanha, acintosamente, preencheu-a com meio-campista Zé Carlos, do Cruzeiro.

À medida que os homens da CBD se irritavam, os nervos de Saldanha iam sendo minados. Suas reações às críticas violentas após os insucessos refletiam isso. Como na noite em que, provocado e insultado por Yustrich, treinador do Flamengo, Saldanha foi atrás dele, armado de revólver, na concentração de São Conrado (Yustrich, que felizmente não estava lá, acreditava que, com a queda do titular, ele seria o novo treinador). De Brasília, Havelange recebia “recomendações” para que se pusesse ordem na seleção.

UM BRASIL IRRESISTÍVEL E IMBATÍVEL

Na reta final para a Copa do México, uma crise explode no comando da seleção brasileira. As críticas a João Saldanha se tornaram mais intensas quando ele assinou contrato com jornal, rádio e televisão, acumulando as funções de comentarista com as de treinador da seleção. Por fim, ele barrou Pelé num amistoso com o Chile, espalhando que, com problemas visuais, o maior jogador do mundo já não era o mesmo. Foi o suficiente para que, no fim da tarde de 17 de março, João Havelange o demitisse.

É inegável a influência política, da grande política, na decisão de Havelange. Os homens do poder, o ministro Jarbas Passarinho em primeiro lugar e o

capitão Cláudio Coutinho logo atrás, convencendo o presidente Emilio Garrastazu Médici de que o ambiente na seleção já não era tão favorável ao regime. Uma seleção tranquila, bem treinada, vencedora, era de vital interesse do governo. Lemas como “Ninguém segura este país” ou “Pra frente Brasil” ou “Ame-o ou deixo-o” passavam pelo desempenho da seleção. Pressões foram feitas sobre o presidente da CBD. E este, naturalmente, cedeu.

É aí que a seleção brasileira se militariza de vez. Na delegação, após a saída de Saldanha, lá estavam Coutinho e outros militares na preparação física. Lá estava o temível major Ipiranga dos Guaranys, homem da repressão que iria cuidar, no México, da segurança dos jogadores, evitando, entre outras ameaças, que eventuais exilados políticos se aproximassem do quartel-general, cujo chefe era o brigadeiro Jerônimo Bastos. De longe, todos os dias, Médici ligaria de Brasília para mandar um abraço ou uma palavra de incentivo aos craques.

O DESPERTAR DE RIVELINO

O novo treinador seria Zagallo. Boa escolha, levando-se em conta que nomes mais cotados, como Dino Sani e Otto Glória, não aceitaram o desafio. Desde muito a seleção era o sonho de Zagallo, competente técnico do Botafogo, ótimo montador de times, defensor do 4-3-3, com ponta esquerda recuado. Por esse motivo – e pela conclusão equivocada de que, com a saída de Saldanha, ele representava uma guinada à direita – foi muito combatido até a ida para o México. Convocou Dario, evitando com isso o amuo de Havelange, Passo e todos os bajuladores da cúpula da CBD. Armou sua seleção com um centroavante de área, Roberto Miranda, e com Paulo César na ponta. Nesse esquema, não havia lugar para Tostão, em fase final de recuperação. Para Zagallo, Pelé e Tostão não podiam jogar juntos.

A seleção foi se acertando nos treinos em Guadalajara, já com Rivelino como falso ponta esquerda, pois na verdade seu papel seria o de compor o meio de campo com Clodoaldo e Gérson. Mas a improvisação de Rivelino como ponta deveu-se a uma emergência. No amistoso com a Bulgária (0 a 0), no Pacaembu, Paulo César tinha sido impiedosamente vaiado, embora não tivesse jogado tão mal. Para o amistoso de despedida, conta a Áustria, no Maracanã, Zagallo achou melhor poupá-lo. Para não escalar um ponta avançado, o santista Edu, preferiu deslocar Rivelino. Em princípio, só naquele amistoso. Mas Rivelino jogou muito, fez o único gol, foi ovacionado à saída de campo e acabou embarcando como titular. Para completar os 11, já então pelo que viu nos treinos, Zagallo rendeu-se a Tostão ao lado de Pelé. Na verdade, Tostão em toda parte, solto, preenchendo espaços com a inteligência do mais moderno jogador brasileiro de sua geração. A teimosia de Zagallo ia só até onde vai a de qualquer treinador. Inteligente, percebeu nos coletivos que sua seleção funcionava perfeitamente com um grupo que vinha de trás, atacando em bloco, ficando Jairzinho como o único sem obrigação de voltar. O “Furacão da Copa” faria gol em todos os jogos.

Se é verdade que muitos brasileiros começaram torcendo contra aquela seleção, vendo nela – a pátria de chuteiras – a representação de uma ditadura

que atingia ali sua fase mais dura, mais perversa, é verdade também que, assim que as vitórias foram ocorrendo, assim que atuações irresistíveis foram se repetindo, a torcida contra mudou de lado.

A nona Copa do Mundo foi a primeira a ser televisada em cores (no Brasil, não ainda para aparelhos particulares). Foi a primeira, também, a permitir substituição durante os jogos, duas por equipe. E a primeira em que os árbitros usaram os cartões vermelho e amarelo. A realização de jogos ao meio-dia, de modo a que o televisionamento para que a Europa se fizesse em horário adequado, foi muito criticada pela maioria dos times. Somava-se à altitude das cidades mexicanas como uma limitação de seu desempenho. Já aí o Brasil começou a levar vantagem sobre os adversários europeus. Sua preparação para jogar na altitude foi exemplar, com base, principalmente, nos estudos do capitão Lamartine Pereira da Costa, ainda quando Saldanha era o treinador. Aconteceria no México exatamente o oposto do que se passara na Inglaterra: o melhor preparo físico era o dos brasileiros.

A estreia contra a Tchecoslováquia, em 3 de junho, no Estádio de Jalisco, foi o ponto de partida. Houve o susto pregado pelo gol de Petras, aos 11 minutos, mas pouco depois uma falta cobrada por Rivelino, o falso ponta que começava a ficar conhecido como “La Patada Atômica”, empatava. A seleção brasileira chegaria facilmente à vitória (4 a 1). Um simples lance – a tentativa de Pelé de vencer o goleiro Viktor com um chute do meio de campo – pode ser visto como prenúncio de que aquela seria a sua Copa do Mundo, a que o faria superar a frustração por não ter jogado por inteiro as duas últimas edições do Campeonato Mundial.

Quatro dias depois, no mesmo Jalisco, a que seria considerada melhor partida das 32 disputadas em campos mexicanos. De um lado, a Inglaterra, campeã do mundo defendendo o seu título com uma equipe tão boa ou melhor que a de 1966. Do outro, o Brasil, desfalcado de Gérson, o cérebro e seu meio de campo. Quem vencesse, estaria matematicamente classificado às quartas-de-final. Uma partida equilibradíssima, com defesas espetaculares dos dois goleiros (em especial a de Gordon Banks na cabeçada de Pelé), gols perdidos, lances de emoção. Primeiro tempo: 0 a 0.

Aos 14 do segundo, Zagallo, pensando em tornar o ataque mais ofensivo, manda Roberto Miranda entrar no lugar de Tostão. Roberto assina a súmula e fica de fora esperando a bola sair. Nesse instante, Tostão desarma um adversário, avança para a área, dribla outro, passa a bola entre as pernas de um dos maiores zagueiros do mundo, Bobby Moore, gira o corpo e centra para a área inglesa. Pelé recebe a bola, rola-a mansamente para Jairzinho, gol do Brasil. Depois das comemorações, Tostão sai, Roberto entra. Se a seleção brasileira ainda não pensava no tri, passou a pensar ali.

Os dois próximos jogos foram, por motivos diversos, surpreendentes. Quando se pensava que a Romênia seria adversário fácil, na briga pelo primeiro lugar do grupo, o Brasil não foi além de um placar apertado (3 a 2), dois gols de Pelé e um de Jairzinho. E quando se temia a equipe do Peru, dirigida por mestre Didi, o “Mister Football”, a vitória veio com folga (4 a 2), dois gols de Tostão,

um de Rivelino e outro de Jairzinho. Didi e os peruanos acreditavam que teriam melhor sorte se o goleiro Rubiños não fosse tão mal.

A semifinal com o Uruguai teve quase tudo que o velho clássico sul-americano vinha acumulando em termos de rivalidade, mística, escrita, história, lenda. Inclusive com Luís Cubilla marcando o primeiro gol aos 19 minutos. Um lançamento perfeito de Tostão deu a Clodoaldo a chance de empatar ainda no primeiro tempo. No segundo, Jairzinho e Rivelino decidiam a passagem brasileira à quarta final de sua história (3 a 1). Não há exagero em afirmar que, contribuindo com o imaginário do clássico, o lance mais memorável foi o gol que não houve: Pelé, sem tocar na boa, aplicando um sensacional drible em Ladislao Mazurkiewicz e, com o gol vazio, chutando para fora. Uma vez mais, o gol apenas esboçado por Pelé prenunciava que aquela Copa do Mundo seria sua.

Uma grande final, ou melhor, a maior de todas as finais pela Taça Jules Rimet. E por um motivo: Brasil ou Itália, bicampeões mundiais, um dos dois conquistaria definitivamente o troféu. Os italianos vinham de dramática semifinal com os alemães ocidentais (4 a 3), os cinco últimos gols marcados na prorrogação. Gigi Riva e Gianni Rivera eram os craques da Azzurra que se destacaram contra o time de Franz Beckenbauer, o alemão que terminara o jogo com o ombro deslocado na tipoia. Um drama, realmente, que aumentava as expectativas para o confronto com um Brasil que tinha vivido, em sua despedida de Jalisco, seu próprio drama.

Os supersticiosos entraram em cena na véspera da decisão, que seria testemunhada por 107.412 pessoas no Estádio Azteca. Ressaltavam que, até aquela data, nenhuma seleção de camisa azul havia perdido uma final de Copa do Mundo. Temiam que os brasileiros marcassem o primeiro gol, pois, também até aquela data, quase sempre abrir o placar significava derrota. A própria seleção do Brasil passara por essa experiência em suas três finais anteriores. E mais: a não ser a própria Itália, em 1938, nenhuma seleção campeã chegara à final sem ter sofrido ao menos um empate. E agora, no México, enquanto os brasileiros tinham vencido todas as suas partidas, os italianos haviam empatado três.

AS LIÇÕES DO TRI

Como estatística não ganha jogo, muito menos superstição, a nona Copa do Mundo teve o desfecho que deveria ter. Os brasileiros jogaram de amarelo contra os italianos, tradicionalmente de azul. Pelé marcou o primeiro gol. E a seleção de Zagallo chegou à sua sexta e definitiva vitória (4 a 1). A taça de ouro, conquistada para sempre, foi erguida por Carlos Alberto, que repetiu o gesto de Bellini e Mauro.

Pode ser que, revendo o jogo com os olhos de hoje, alguém faça alguns reparos técnicos àquela decisão, não a achando tão excepcional quanto se disse. A tensão natural, o desgaste dos dois times, o forte calor de meio-dia do verão mexicano, tudo isso pesou. Mas alguns lances, de pura arte, atestam que os tricampeões do mundo jogaram ali um futebol para não ser esquecido.

A simbolizá-lo, nada melhor do que o quarto gol, para o qual a bola foi passando pelos pés de sete jogadores brasileiros até chegar a Pelé, que a encaminhou, com precisão, para o chute certeiro de Carlos Alberto.

É provável que ainda haja muito a se dizer sobre certos aspectos – os da grande política – que balizaram a nona Copa do Mundo. Sobretudo hoje, quando são revistos fatos dos anos 70, ocorridos paralelamente ao esporte. O tricampeonato – a conquista do troféu que desde 1930, de início timidamente, o futebol brasileiro perseguiu – foi vivido em tempos sombrios, de ditadura e de grande futebol. Os dois mundos se confundindo, acabaram confundindo o próprio brasileiro, que custou a perceber que um nada tinha a ver com o outro. E que única relação do general e comandados, com a mais formidável seleção que o Brasil mandou a uma Copa do Mundo, foi tentar aproveitar-se de sua glória.

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