O volante Arouca lamentou as ofensas racistas que sofreu na saída do gramado após a goleada por 5 a 2 diante do Mogi Mirim, na última quinta-feira. Em nota, o jogador, que marcou o terceiro gol santista na partida, repudiou a atitude do torcedor e se disse orgulhoso de suas origens africanas. O árbitro da partida não relatou as ofensas na súmula.

– É lamentável e inaceitável que ainda haja espaço para esse tipo de coisa hoje em dia. Isso só mostra que o ser humano ainda tem muito a evoluir e a crescer, que não estamos nem perto de um mundo que viva a harmonia entre as pessoas e todas as suas diferenças. Tenho muito orgulho das minhas origens africanas, que foi o que o sujeito tentou usar para me ofender – disse o volante.

O atleta do Peixe também recordou as recentes ofensas recebidas por Tinga, do Cruzeiro, no Peru, na partida contra o Real Garcilaso, pela Taça Libertadores. Para Arouca, a atitude tomada pelo torcedor depois do jogo contra o Mogi Mirim é um reflexo do atual cenário mundial, não apenas do esporte.

– Eu sei muito bem de onde venho e de toda minha luta para chegar onde cheguei. Por isso, sentir na pele o que aconteceu comigo hoje, logo depois do que fizeram com o Tinga outro dia e também do caso do juiz do Rio Grande do Sul (que também foi alvo de racismo), me deixa muito decepcionado. O futebol é um espelho da nossa realidade e isso não se resume apenas a xingamentos racistas – completou.

Confira a nota do volante na íntegra:

Na saída do jogo desta quinta-feira, contra o Mogi Mirim, fui alvo de insultos racistas de um torcedor do time adversário. É lamentável e inaceitável que ainda haja espaço para esse tipo de coisa hoje em dia. Isso só mostra que o ser humano ainda tem muito a evoluir e a crescer, que não estamos nem perto de um mundo que viva a harmonia entre as pessoas e todas as suas diferenças. 

Tenho muito orgulho das minhas origens africanas, que foi o que o sujeito tentou usar para me ofender, dizendo que eu deveria procurar alguma seleção de lá para jogar. Dando a entender que um negro igual a mim não serve para defender a seleção brasileira. Como se algumas das páginas mais bonitas da história da nossa seleção não tivessem sido escritas por jogadores como Leônidas, Romário e pelo Rei Pelé, também negros. Não ouvi os gritos de ‘macaco’ que alguns repórteres disseram ouvir, mas, caso tenha realmente acontecido, é ainda mais triste. 

Eu sei muito bem de onde venho e de toda a minha luta para chegar onde cheguei. Por isso, sentir na pele o que aconteceu comigo hoje – logo depois do que fizeram com o Tinga outro dia e também do caso do juiz no Rio Grande do Sul – me deixa muito decepcionado. Acabou com a alegria pela boa atuação do nosso time, pelo belo gol que fiz, ou seja, pelo que deveria ser a essência do esporte.

O futebol é um espelho da nossa realidade, e isso não se resume apenas a xingamentos racistas. Continuam matando e morrendo por torcerem por um time diferente do outro. Espero, sinceramente, que casos como esse sejam severamente punidos, pois, enquanto isso não acontecer, nada vai mudar. A impunidade e a conivência das autoridades com as pessoas que fazem esse tipo de coisa são tão graves quanto os próprios atos em si. Somente discursos e promessas não resolvem a falta de educação e de humanidade de alguns.