FRR – Quantos anos de profissão você tem?
REGINA – 17 anos de profissão (comecei a trabalhar em 1986) mas tenho 15 anos de formada.
FRR – Qual foi seu primeiro emprego?
REGINA – Meu primeiro emprego foi na Construtel, que é uma empresa empreiteira que presta assistência à Telemar. Eu trabalhava no telemarketing. Eles contratavam estagiários de jornalismo para trabalhar no telemarketing. Fiquei lá uns seis meses, depois fui para Três Rios, para trabalhar como repórter no Jornal O Diário, aí fiquei lá em Três Rios uns dois meses, até que surgiu a oportunidade para fazer o teste para a rádio, aí eu entrei na rádio.
FRR- Como tudo começou?
REGINA – Eu fazia estágio num jornal de Três Rios no 4º período. Aí teve um professor da Faculdade, que era o José Carlos de Leri Guimarães, ele era meu professor de TV, e ele assumiu a direção da rádio e mudou toda a programação, então ele fez um teste com os alunos da universidade para fazerem estágio lá. Eu era aluna dele, ele gostava do meu trabalho, do meu desempenho na sala de aula, então ele me convidou para fazer o teste. Aí eu fiz, passei no teste e fui trabalhar na época na Super B3. Fiquei 11 anos lá, fiquei até eu me formar e depois de formada ainda fiquei muito tempo. Era maravilhoso trabalhar lá. E aí o seguinte: eu comecei a trabalhar, e como eu passei em boa colocação, ele pediu que eu escolhesse a área de atuação que eu quisesse na rádio. E eu gostava muito de esportes, e também já tinha aquela ligação com o professor Márcio Guerra, que era meu professor na época, eu tinha aquela ligação, e assim, meu marido é atleta, que na época era meu namorado, meu pai gostava muito de futebol, eu também frequentava o campo, eu já gostava muito, entendeu? Então eu me identificava muito com essa área de esportes. Então eu pedi ao professor José Carlos e ele me colocou na equipe de esportes, foi aí que eu comecei.
FRR – Você sonhava trabalhar com jornalismo esportivo?
REGINA – Ah, sonhava. Porque assim, quando eu comecei a fazer jornalismo, meu maior sonho era trabalhar com jornalismo esportivo, era o que eu queria, sabe? Porque assim, eu acho que é uma área alegre, uma área divertida, eu gosto da linguagem que é usada no esporte, da forma descontraída com que são feitas as entrevistas, os textos, as matérias, então assim, eu me identificava muito com essa área, sabe? Então eu queria muito, eu achava que, era onde eu me sentia melhor, foi até quando o professor José Carlos pediu que eu escolhesse, eu escolhi o esporte porque era onde eu queria.
FRR – Qual foi a reação da sua família quando você foi trabalhar nessa área?
REGINA – Ah, foi legal. Meu pai era muito preconceituoso, assim, ele achava que lugar de mulher não era em campo de futebol. Então sempre quando eu queria ir no jogo com o meu marido, meu namorado na época, ele falava assim: “- Não, você não vai, não”. Porque era campo lotado, aparece uma mulher, os homens ficam mexendo, meu pai era daquela mentalidade antiga que acha que tem divisão: lugar de mulher é aqui, lugar de homem é ali. Então ele achava um absurdo, sabe? Então eu fiz o teste para entrar na rádio, ele achou, ele não levou a sério, ele não levou fé, entendeu? Até que um dia, foi muito engraçado, porque eu comecei a trabalhar na rádio e foi a primeira transmissão que teve, que eu fui trabalhar, ele tava no campo. Aí eu cheguei com microfone, com o fone assim (ela encena como usava o equipamento de transmissão), com a camisa da rádio, dei tchauzinho pra ele assim, ele fez aquela cara de espanto, mas eu senti que ele ficou orgulhoso, sabe? Aí depois, nossa, ele ficava super orgulhoso, contava para todo mundo que era meu pai. Ele ia muito na rádio, ouvia direto o programa, me dava alguns toques, entendeu? A minha mãe também, mas era o meu pai, que era uma pessoa resistente, acabou se tornando um fã.
FRR – Qual foi a sua sensação a primeira vez que você pisou num gramado para cobrir um jogo?
REGINA – Ai, nossa, (risos), sabe quando você quer muito uma coisa? Quando você quer demais uma coisa? Aí, e quando aquilo vem, e eu acho que veio muito rápido, então porque assim, logo que eu entrei na rádio, eu achei que primeiro eu fosse me inteirar da rádio e tal, ter um tempo antes de acontecer isso e não. Foi logo. Eu me senti muito, se eu ouvisse uma transmissão a primeira, a segunda, hoje, eu me sentiria horrível. Porque muito nervosa, muito insegura, muito imatura, entendeu? Muito feliz, mas ao mesmo tempo muito nervosa. Porque eu queria tanto aquela oportunidade, que eu falava: “- Eu não posso errar, eu não posso pecar”. Ainda mais porque era a primeira vez que ia colocar uma mulher fazendo isso, então eu tinha que mostrar que eu podia fazer, que ia ser legal, entendeu? Para conquistar o meu espaço e o de outras mulheres Também… Mas ao mesmo tempo eu estava muito nervosa, tremia tanto, foi muito engraçado.
FRR – Que jogo era?
REGINA – Era Tupi e Valério.
FRR – Você lembra o placar?
REGINA – Ah, eu não lembro. Lembro que foi no campo do Sport. Nossa, mas eu estava muito nervosa, muito nervosa, muito… Eu tremia tanto que eu não sei nem como é que eu conseguia falar, tanto que eu devia gaguejar, né?
FRR – Você sentiu, em algum momento, algum tipo de discriminação ou deboche por parte dos colegas de trabalho ou mesmo dos ouvintes?
REGINA – Não. Isso foi uma coisa muito legal. Primeiro porque quando eu entrei na equipe eram 11 homens, eu era a única mulher. Eu conhecia o Márcio Guerra, que era meu professor, conhecia o Paulo César que já era colega de rádio e os outros do esporte eu fiquei conhecendo assim, logo que eu entrei. E assim, todos super bem, se tinha alguma discriminação, nunca demonstraram, mas eu acredito que não. Até porque se tornaram grandes amigos, entendeu? Agora mesmo eu tava vendo umas fotos que eu tava procurando pra te mostrar, quando tive meu filho, os quatro da equipe de esportes na maternidade segurando meu filho, sabe? Desenvolvemos uma amizade muito forte, que até hoje a gente é amigo. É o Márcio Guerra, é o Leopoldo Siqueira, que tá no Alterosa Esporte em Belo Horizonte, é o Rogério Corrêa, que hoje tá na Globo de BH, sou madrinha de casamento dele, é o Paulo César, que é editor da Tribuna, sou madrinha da filha dele, o Márcio Guerra é meu padrinho de casamento, tem o Ricardo Wagner que é um super amigo, Ivan Elias, Nélson Júnior, assim, as pessoas que eu tenho carinho até hoje, a gente se reúne, a gente se vê, a gente se fala, entendeu? Os ouvintes também, nossa! Era muito legal! Eu era muito nova. Eu tinha o quê? Devia ter uns 20, 22 anos, por aí, era muito novinha, menina novinha, no campo, todo mundo mexia, fazia hora, mexiam demais, paqueravam, mas assim, tudo com respeito. Era isso que eu achava legal. Nunca, nunca me senti desrespeitada. Porque assim, o campo lotado, arquibancada lotada, eu cobria muito arquibancada, eu subia com o microfone, me sentia tranquila. Se eu tivesse sido ofendida, desrespeitada, eu ficaria inibida para fazer esse trabalho. Olha, eles me pagavam pipoca, me pagavam picolé, mandavam coca-cola pra mim, eu tinha fã que escrevia carta… Foi aí que eu descobri as magia do rádio, como é bacana. Porque quando você faz rádio, você fala no programa, no esporte, nos programas, na transmissão, o seu colega brinca com você, o Márcio brincava muito comigo, o Léo… Então ficava aquela cumplicidade no ar, a gente morria de rir, um falava do outro, isso cativava no ouvinte uma curiosidade, despertava nele uma curiosidade, que eles queriam conhecer, entendeu? Queriam me conhecer, queriam conhecer o Márcio. Então eles iam na rádio, levavam presente, essas coisas… Aí chegavam num lugar: “- Ô Regininha! Beleza?”, aí contavam piada que o Márcio tinha contado ou o Paulo César, por exemplo, mexia muito comigo que a cada dia eu estava com uma roupa diferente, aí eles falavam assim: “- Ih, mas hoje você tá chique! Como diz o Paulo César tá com uma saia não sei o quê lá”, entendeu? Pessoas que eu nem conhecia, viam com essa liberdade, mas uma liberdade com todo respeito. Como eles ouviam muito o programa, aquela intimidade que os colegas tinham comigo, eles se sentiam íntimos também. Era muito legal. Assim, quando eu ia em transmissão fora daqui, aí às vezes, tinha aquela coisa… Aconteceu uma vez, eu estava em Ubá, eu fui fazer o jogo do Sport como Aimorés. Aí, eu fui no ônibus do Sport, então eu já conhecia os jogadores do Sport todos e eles gostavam de mim pra caramba. Então eu fiquei com o Sport e o Ricardo ficou cobrindo o Aimorés. Então eles entraram no vestiário, trocaram a roupa, e quando eles trocaram a roupa, eu entrei para começar a fazer aquelas entrevistas antes do jogo. Tudo combinado, com o consentimento de todo mundo. Aí a torcida, quando me viu no campo ficou boquiaberta. Quando entrei no campo, eles ficaram chamando: “- Pi-ra-nha! Pi-ra-nha!”. E eu entrando no campo… Os jogadores ficaram possessos com aquilo, sabe? Ficaram chateados e vieram me consolar, aí eu disse: “ – Não, larga pra lá. Eu ligo a mínima”. Em Juiz de Fora nunca tinha acontecido isso, mas lá aconteceu. Mas eu não liguei a mínima, eles falaram, falaram, falaram, acabou, passou. Era mentalidade diferente, eles não estavam acostumados e… Não sei, a rádio talvez não sintonizasse lá com perfeição, eles não tinham muitos ouvintes quem acompanhavam… Aí, vê uma mulher no vestiário, ficaram gozando. Mas foi só no início, depois passou.
FRR – Essa foi a sua pior experiência então?
REGINA – Assim, pior experiência foi uma vez em Barbacena, que teve uma briga horrível, uma briga horrorosa, que assim, não foi comigo a situação. Mas foi com pessoas que eu gostava, que tavam sempre comigo, que foram agredidas. Foi a diretoria do Sport, essa coisa, ficou uma coisa muito chata.
FRR – Como era sua relação com os atletas?
REGINA – Nossa, muito legal, muito. Até hoje, encontro na rua eles mexem comigo, entendeu? Tem um jogador que jogou no Sport, o Wilsinho, ele trabalha aqui numa farmácia em Juiz de Fora, de vez em quando eu vou lá, ele brinca comigo, me dá desconto. Nossa, eles têm um carinho por mim muito bacana. Até hoje encontro com muitas pessoas, com técnicos da época que eu trabalhava, jogadores, dirigentes, todos com o maior carinho, tive muita sorte.
FRR – Como você era recebida nos clubes?
REGINA – Tanto no Tupi quanto no Sport que eram os dois clubes que eu ficava sempre, nossa, fui muito bem recebida. Eu viajava nos ônibus deles. Às vezes, eu ficava até constrangida pensando: “ – Pôxa, eu tô tirando a liberdade deles…”. Porque era só homens, queria falar bobagem… Me reservavam o primeiro banco, me ofereciam as coisas, me davam as coisas para comer, a gente ia jantar fora depois do jogo, nossa, eu era super bajulada! Por todo mundo. Tanto os dirigentes, o pessoal da diretoria, preparação física, técnico, comissão técnica, quanto os jogadores, muito bom.
FRR – Como era sua relação com os ouvintes?
REGINA – Nossa, muito legal. Escreviam cartas… Olha, tem ouvinte que até hoje me liga no meu aniversário, me manda presente, me manda cartão… Natal me manda cartão. Quando eu tive meus filhos, eles mandaram flores para a maternidade, no meu casamento me mandaram presente, muitos foram no meu casamento. Porque quando eu casei, eu ainda trabalhava com eles na equipe de esportes, estava saindo da equipe de esportes. E durante a preparação do casamento, eles falavam muito no ar que eu iria me casar. Quando eu me casei, casei só na cerimônia civil no Clube Bom Pastor, o clube estava lotado, lotado de gente. Muita gente que eu nem conhecia, que chegava pra mim e dizia: “ – Óh, Regininha, eu sou seu ouvinte, vim aqui pra te conhecer, pra te dar os parabéns…”. Olha, eu fiz amizades, assim, bacanas, no rádio. É um veículo que eu te confesso, que eu sou apaixonada em rádio. Se eu pudesse, eu só vivia a minha vida trabalhando em rádio, fazendo esporte. Se você me perguntasse assim: “- O que você se sentiria realizada?”, eu me sentiria realizada fazendo esporte no rádio. Que é a coisa que eu mais gosto. Mas, infelizmente, hoje em dia Juiz de Fora se perdeu muito em relação ao esporte, digo à cobertura de esporte. E rádio, infelizmente, é um veículo que paga pouco, que não tem muita estabilidade, então para eu me melhorar financeiramente, não podia ficar vivendo só de ideal, eu tinha que seguir meu rumo, aí saí fora do rádio, saí fora do esporte… Se eu fosse rica (risos), ia me dedicar a isso.
FRR – Como era sua equipe de trabalho?
REGINA – Nossa, maravilhosa, não podia ser melhor. Todo mundo amigo, a gente se entrosava muito bem. Lá na rádio a gente vivia falando assim: “-O salário não é bom. Mas o ambiente é excelente. É salário-ambiente!”. Porque a gente ganhava pouco, mas era muito feliz. Eu lembro que eu chegava antes do meu horário, e saía depois, porque eu gostava de ficar lá, sabe? Gostava de ficar na rádio, gostava de ver os outros colegas trabalhando, gostava de estar ali. Eu ia trabalhar sábado, domingo… Quantas vezes aquele sol de rachar, minha família indo pra granja, prum churrasco, pra piscina o dia inteiro, eu indo trabalhar feliz da vida. Você imagina trabalhar domingo? Eu ia trabalhar feliz da vida. Feriado, de domingo a domingo, de segunda a segunda, que eu não ia me importar porque eu trabalhava com uma coisa que eu queria. Eu era feliz. Sabe aquela coisa: “-Sou feliz e sabia”? Eu era feliz e sabia. “- Nossa, eu não quero abandonar essa vida nunca”! Mas, infelizmente, a gente tem que amadurecer, tem que criar filho, casa, aí você tem que ter responsabilidade de ganhar dinheiro, né? Você tem que abandonar certas coisas.
FRR – Você sente saudade dessa época?
REGINA – Nossa! Morro de saudade! De vez em quando eu pego as fotos, fico vendo, encontro com um, encontro com outro. Tem o Rogério Corrêa, que mora em Belo Horizonte, ele passou um tempo nos Estados Unidos e tudo, a gente conversa muito, sabe? A gente conversa muito por e-mail, quando ele vem aqui a gente sai, às vezes eu vou à Belo Horizonte, eu vou na casa dele… Eu e o Rogério então, a gente é “o saudosista”. Como que a gente lembra, como que a gente conversa, como que a gente recorda das pessoas, porque eu acho que como ele não mora aqui, ele tá sempre querendo saber notícias, então eu vou contando, o Rogério é muito espirituoso, a gente tá sempre relembrando. Tenho muita saudade de todos.
FRR – Você viveu alguma situação engraçada?
REGINA– Tem muitas histórias engraçadas, mas que eu me lembre….Mas a mais importante de todas, foi uma vez que a gente foi fazer o jogo do Flamengo e Atlético no Mineirão. Aí era janeiro, maior verão, maior calor, e nessa época usava muito bermudinha. Eu estava com uma bermudinha assim, um palmo acima do joelho, não era short não. Aí eu tava com uma camisa e uma bermudinha. Aí nós chegamos, montamos o equipamento no campo, fizemos o programa que era de seis às sete. Aí acabou o programa às sete horas, entraria a voz do Brasil, a gente saiu, foi pro restaurante do Mineirão pra poder comer e depois voltar pra fazer o programas às oito e meia, porque tinha o projeto Minerva. Quando a gente tava saindo, o cara me berrou e disse: “-Você não vai voltar não, né?”, eu falei: “-Vou”, ele falou: “-Não, mas você não pode voltar com essa roupa que você está usando”, eu falei: “-Como?”, aí ele falou assim: “- Não, aqui não pode. É proibido entrar de short, bermuda aqui no campo!”. Aí eu falei: “- Mas como? Que isso! Não é possível! Pelo amor de Deus!! Verão, um campo de futebol…”, “Mas é proibido, é proibido…”. Aí eu falei: “- Como? E os jogadores?”, “- é só os jogadores, o juiz podem. O resto ninguém pode, só de calça. Nem homem, ninguém. Só de calça comprida”. Aí ele achou que eu era do Rio, porque como ele não me reconheceu como sendo de Belo Horizonte, as outras rádios de fora geralmente eram do Rio, né? “- Vocês lá no Rio estão acostumados com praia, lá é diferente, aqui é Minas”. Eu falei: “- Meu amigo, eu sou de Minas, sou de Juiz de Fora!”, “- Não, mas não pode”. Eu falei: “- Pelo amor de Deus eu viajei só para fazer esse trabalho, agora o senhor vai me impedir? Eu não trouxe roupa! Vamos voltar agora depois do jogo…”, “- Não, que não, que não”. Aí eu cheguei lá dentro, lá perto do restaurante tavam os jogadores, a comissão técnica, os jornalistas, aí eu comentei com o pessoal, mas pau da vida: “- Gente, eu sou flamenguista doente, esse jogo é decisão! Imagina ficar fora!”. Aí o jogador Adílio do Flamengo me viu falando e disse: “- Ah, eu posso te ajudar”. Me chamou lá dentro, nós entramos num corredor com várias salas, aí tinha uma sala de gandula. Ele abriu a porta e me emprestou uma calça vermelha. Nunca me esqueço. Era uma calça vermelha com duas listinhas brancas aqui do lado. Aí eu vesti aquilo por cima da bermuda, fui pro jogo. Fizemos o jogo todo, acabou, eu tirei a calça lá, entreguei, devolvi. Todo mundo da imprensa de Belo Horizonte ficou sabendo, falaram no rádio, saiu notinhas nos jornais no dia seguinte. Mas no final deu tudo certo. E quem diria que o Adílio fosse me emprestar a calça. Foi muito engraçado.
FRR – Me conte um momento marcante de sua carreira cobrindo jogos de futebol.
REGINA – Eu acho que são momentos, tá? Eu sou uma torcedora fanática pelo Tupi. Eu amo o Tupi de paixão. Meu pai era sócio proprietário do Tupi, foi diretor muito tempo… Meu avô, meus tios… Desde criança eu frequento o Tupi. E aí, quando o Tupi começou a deslanchar no futebol, eu fiquei enlouquecida. Eu gosto também do Sport, é óbvio. Eu torço para o futebol da minha cidade. Eu sou uma pessoa assim, se amanhã jogar o Sport e um outro time, eu vou torcer para o Sport – ao contrário da torcida de Juiz de Fora, que um é rival do outro. Eu não. Eu sou de Juiz de Fora. Eu torço para o Tupi, mas eu torço para os outros times da cidade. Quando veio o Maurício Batista de Oliveira que era o presidente do Tupi e que investiu muito dinheiro, sabe? Cada vez que ele contratava alguém, que o Tupi crescia, aquilo me emocionava muito, sabe? Aquilo eu ficava até louca, doida. Tinha vontade de agarrar, de beijar, de abraçar, de agradecer a ele. Assim, e quando o Tupi foi disputar o quadrangular da final do Campeonato Mineiro, a gente achou que ia ser, e o Tupi perde. Aqueles momentos que o Tupi precisava ganhar… Quando o Tupi chegava e nadava, nadava, nadava e morria na praia. Pô, eu chorava muito dentro do estádio. Tendo que trabalhar e chorando na arquibancada. Tinha que me segurar. Mas, nossa! Muito nervosa! Torcendo e trabalhando. Torcendo e trabalhando…Isso, pra mim, era uma adrenalina e tanto…
FRR – E onde ficava a imparcialidade do jornalismo?
REGINA – Não, assim, isso é difícil, viu? No esporte, na transmissão esportiva, isso é um pouco permitido, sabe por que? Porque assim: a gente transmitia um jogo do Tupi, a gente era uma rádio de Juiz de Fora, a gente cobria o Tupi. Onde o Tupi ia. É óbvio que houvesse uma torcida pelo Tupi, entendeu? É a mesma coisa que o Galvão Bueno vai transmitir a seleção brasileira. O repórter fazendo entrevista… Existe uma parcialidade. É óbvio que se jogasse o Tupi e o Sport eu não ia ficar torcendo. Mas ali era uma situação diferente. Olha, trabalhando todos os dias ali você fica amiga dos jogadores, você fica amiga dos dirigentes, da comissão técnica, do massagista, do cara que leva a maca, você fica amiga da torcida, entendeu? É todo mundo junto. Você torce pelo seu amigo que está jogando, pelo seu amigo que está no comando técnico, pelo seu amigo que tá no banco de reserva. Antigamente eu era torcedora anônima, depois eu passei a ser uma torcedora que estava no dia a dia do clube. Todas as derrotas e vitórias do Tupi, eu sofria e me alegrava. Isso pra mim foi uma coisa muito bacana, ter vivido isso. Tinha dias em que eu chegava no estádio, aquelas decisões importantes, o estádio lotado e eu falava: “- Gente, eu estou fazendo parte desta história”. Porque pra mim isso era importante. Tanto é que agora o meu marido é professor de Educação Física, e a Faculdade de Educação Física está fazendo 30 anos, então cada professor, de disciplinas diferentes ficou responsável por uma modalidade. Ele, como é professor de futebol, ficou responsável de escrever um capítulo sobre a história do futebol da cidade. Então foi uma delícia, porque ele me convidou para participar junto com ele desse trabalho, nós sentamos no computador, e foi contando as histórias e relembrando, uma viagem ao túnel do tempo, entendeu? E a gente lembrando como foi importante para a cidade, para o esporte da cidade, esse momento que o Tupi viveu, que o Sport depois viveu também, como foi importante o trabalho de alguns dirigentes que ficaram à frente dos clubes. Isso, pra mim, ter feito parte desse momento tão importante do futebol pra mim foi tudo. Eu acho maravilhoso.
FRR- Você “pagou algum mico” cobrindo algum jogo?
REGINA – Ah… já! Já fui de saia curta, sabe? Novinha, sem noção? Aí você tem que subir arquibancada, neguinho gozando: “- Pra quê você veio com essa saia?”. Já levei bolada… Ah! Teve um lance, que eu tava fazendo uma ponta do lado do gol do adversário, lá no campo do Tupi, no Sales de Oliveira. Então o Evaldo, era um zagueiro fortão do Tupi, um negão fortão pra caramba! Ele veio numa disputa de bola com um atacante, e os dois vieram correndo, assim, e eu tava do lado do gol… Então o Evaldo veio correndo, veio correndo, veio correndo, ele não conseguiu parar. Quando ele viu que eu tava na frente dele, não adiantou, ele não conseguiu parar! Ele me atropelou e caiu em cima de mim. Sabe aquela coisa? Eu sentada, caí pra trás e ele em cima de mim, todo suado, e a galera: “- Aaaah…, gritando na arquibancada, o pessoal gozando no fone, meu fone saiu, e o pessoal: “- Quê Regina? Te atropelaram? Não sei o quê… “ Aquilo foi, assim, motivo de riso pro resto do jogo. Levar bolada… Neguinho mandava muito saco de xixi, nesses campos de fora, isso era comum demais. Pegava o xixi, amarrava e ficava jogando no campo. Em mim nunca acertou não, mas você ficava tensa, ficava naquele negócio de ter de desviar. Pedrada… mandavam pedra. É, viajar nesses campos de fora aí? Nossa Senhora! O campo sem nenhuma segurança, arquibancada muito próxima ao campo, a gente passava aperto! Era muito arriscado. O Ricardo já levou pedrada na cabeça. Acho que foi o Seu Simão, do Sport, que também levou uma pedrada na cabeça fora daqui, é terrível…
FRR – Você já contou que torce para o Flamengo. Já chegou a cobrir algum jogo dele?
REGINA – Já no Maracanã, inclusive.
FRR – A primeira vez como foi?
REGINA – Nossa! Putz! Cara, que emoção! Olhar aquele campo lotado, você fica igual uma criança, sabe? Eu acho que eu era muito novinha… Hoje eu me emociono, lógico. Mas hoje eu acho que eu saberia separar a emoção, não sei se eu saberia também, do profissionalismo. Na época eu era muito apaixonada mesmo, então eu entrava, eu ficava meio perdida, falando assim, nossa a torcida Força Jovem, a torcida sei que lá, olhando aquelas torcidas que pareciam na televisão, como é que é o campo, olha aquele jogador, olha aquele! Meio deslumbrada, sabe? A gente fica meio deslumbrada. Hoje, eu acho que teria uma mentalidade meio diferente, prestava mais atenção no que eu teria que fazer, mas nossa, muita emoção. Porque é uma coisa pra caramba. Você torcer por aquilo, desejar, sonhar, de repente você viver aquilo. Tenho uma história assim. A minha filha é apaixonada por Sandy e Júnior. Apaixonada, apaixonada, louca. Coleciona tudo deles, tem todos os cd’s, tem camisa, isso, aquilo. Aí, um dia, a Sandy e o Júnior vieram aqui em Juiz de Fora para dar um show no Sport, a TV foi, e a gente foi fazer a entrevista, e eu tava de plantão, olha que coincidência? Eu tava de plantão na edição, a Flavinha que ia fazer a entrevista com eles, teve um acidente fora daqui e ela teve que ir. Então tinha o cinegrafista, mas não tinha o repórter. Então eu fui. Liguei pra minha filha e mandei ela ir junto comigo. Ela foi junto comigo. Ela ficou tão louca, mas tão louca, que ela não conseguiu dar uma palavra com eles, não pegou autógrafo… E ela só tirou foto porque uma pessoa tava com uma máquina perto, tirou uma foto pra ela. Ela ficou tão perdida. E ela sonhava: “- Mãe, quando eu encontrar a Sandy, eu vou falar isso, vou pedir um autógrafo, eu vou fazer isso, aquilo…”. separou na agenda dela, a página do aniversário da Sandy, pra Sandy autografar… E na hora em que ela chegou ali, ela ficou tão embasbacada que ela não deu uma palavra! E, olha que a Sandy que puxou ela pra dar um beijo, porque nem isso ela foi. É um pouco assim, uma comparação… Você fica meio atordoada, meio que assim, parece que anestesiada. Acho que rolava isso. Depois não, depois vai acostumando.
FRR – Aí no caso do Flamengo, eu volto a te perguntar, e a imparcialidade? Como é que fica?
REGINA – Não, na hora da transmissão do jogo do Flamengo era diferente. O Tupi, eu fazia sempre, o Flamengo não. Era só pontinha pequena, aí tava tranquilo, não tinha problema. O Tupi eu cobria sempre. Muitas vezes eu fazia entrevista com o presidente, ficava cobrindo arquibancada, ouvindo torcedor, os jogadores antes do jogo, depois…. Era aquela coisa mais completa. O Flamengo era diferente.
FRR – Para você, qual é o motivo de tão poucas mulheres trabalharem com as transmissões e coberturas radiofônicas de futebol?
REGINA – Eu acho até agora que tá aumentando… Parece que eles descobriram que colocar modelo bonitona apresentando esporte atrai homem, já viu? Tem um monte. Eu fico vendo na Bandeirantes, tem aquela mulher do Alexandre Frota, tem outra na Record, não eu acho que a mulher do Alexandre é na Record. Tem uma na Bandeirantes, é a que eu acho horrível, apresenta super mal, toda durona. É natural que a mulher não se interesse por futebol igual ao homem, isso é normal. Você não vê tantas mulheres que gostam tanto de futebol quanto os homens. A maioria dos homens gostam, a mulher não. Isso já é uma parte que dificulta um pouco. Agora na transmissão de futebol tem aquela coisa: os jogadores são homens, a maioria da torcida é homem, a maioria dos profissionais é homem… A mulher nem tanto se interessa por futebol. Então isso elimina um pouco. Agora os programas de televisão, eu vejo, você vê o Globo, direto tem matéria de mulher.
FRR – Mas eu estou focando mesmo é o futebol na rádio.
REGINA – Ah, sim. Eu acho que é por causa disso. Eu acho que a mulher não se interessa por futebol. Eu acho que é um pouco isso. Porque quando você encontra uma mulher que se interessa… Porque eu acho que dá certo. Sabe por quê? Eu falo por mim, depois veio a Christiane, a Gisele também. A Gisele Cid também trabalhou com esporte um tempo. Eu acho que a gente foi bem recebida. Eu acho que teve um retorno legal, sabe? Nunca fizemos uma pesquisa de Ibope, pesquisa de opinião pública para perguntar ao torcedor: “- Olha, você acha que com ou sem?”, aquelas pesquisas qualitativas. Mas eu acho que tem um retorno legal. Agora eu acho que não tem muito, porque a mulher não se interessa muito por futebol. Porque para você fazer, você tem que gostar, tem que entender. E, de repente, entender uma coisa que você não gosta… Eu acho que é por isso. Não acho que seja tanto por preconceito não. A mulher mesmo é que, ela que não vai.
FRR – Por essa falta de interesse das mulheres que também não tem narradoras nem comentaristas?
REGINA – Eu acho. Eu acho que as mulheres, elas não se interessam. Eu não sei é “achismo”. É uma opinião minha. Eu trabalho lá na TV e de quatro em quatro meses, todo mês aliás, a gente recebe uma turma de estagiários que estão na faculdade e vão fazer estágio lá. O que eu percebo, é que a maioria que chega lá quer ser repórter de televisão, quer apresentar jornal. Posso estar enganada, mas a minha mentalidade, pelo meu entendimento, a maioria das alunas de hoje da Faculdade de Comunicação querem ser apresentadoras de TV ou repórter de televisão. Não sei. Posso estar enganada. Também eu pego só quem vai fazer estágio em TV. Elas chegam lá, elas não se interessam muito pela edição, pela produção… Quando chega na reportagem elas deslumbram. Eu noto isso. Poucas pessoas se interessam pelo rádio. Muito poucas. Eu vejo assim. Eu falo: “- Rádio é tão bom”, todo mundo “-Ai…”, é um certo preconceito. Já peguei depoimento de pessoas que falavam: “- Pôxa, eu achava que rádio AM era coisa de empregada doméstica. Lá na minha casa, só empregada doméstica é que ouvia. Aí, quando eu vim trabalhar na rádio, eu vi que tanta gente ouvia. Pô, eu cheguei lá na Câmara e o vereador X falou que me escuta. Pô, eu na Prefeitura e o Secretário falou que me escuta todo dia. O médico da minha mãe falou que me escuta!!”. Aí, começa a ficar deslumbrada porque as classes sociais mais elevadas também escutam rádio AM. Aí, começa a ouvir a rádio e começa a gostar também. Existe um preconceito de achar que rádio AM é coisa brega, é coisa de gente pobre, de classe inferior… Aí, você descobre a rádio. Descobre que rádio é um veículo que atinge outras pessoas que não sejam só a empregada que trabalha na sua casa. Que rádio é um órgão bacana. Que tem gente legal que escuta, que é um veículo que pode ajudar muito a comunidade. Aí, você já se interessa pelo rádio. E tem esse preconceito com o esporte: que a mulher não se interessa pelo futebol, portanto ela não se interessa em entrar para uma equipe de esportes, não se interessa em atuar nessa área, e por aí vai…
FRR – Como foi a sua experiência em relação ao vestiário?
REGINA – Eu tinha mais preocupação de incomodar do que de ser incomodada. Porque que acho que eu estava em um ambiente que não era o meu. Então, quem teria que se mancar era eu. Eu não ia querer que chegasse no vestiário, nenhum jogador falasse palavrão, ninguém falasse bobagem, todo mundo se comportando como cavalheiros, porque eu estava ali. Isso não existe. E eu sentia que eles tentavam se portar assim. Então eu ficava sem graça de inibi-los. Procurava tratá-los de uma maneira mais relaxada para não ficar aquela inibição. Mas era com o maior respeito. Eles entravam, trocavam de roupa, me chamavam. Lá dentro ninguém fazia gracinha, ninguém ficava fazendo palhaçada. Com o maior respeito, com o maior carinho, todos tinham carinho por mim, assim, muito bacaba. Isso foi uma coisa muito boa para mim. Porque eu acho que no início de profissão, insegura, trabalhando numa coisa que não era “normal”, não era comum na época, no meio só de homens, se eu tivesse sido recebida de uma maneira contrária à essa, isso teria me frustrado… Poderia ter me freado, sabe? Sabe quando você tem uma decepção, um trauma, e aí você freia, bloqueia? Isso poderia ter sido um bloqueio para mim se fosse o contrário. E não. O que aconteceu comigo foi tão ao contrário, que só me incentivou. Eu fiquei mais audaciosa, com mais vontade de ir para frente, com mais vontade de fazer coisas. Eu não sei se eu peguei uma turma especial, ou se realmente isso sempre acontece. Não sei se eu soube me impor. Não sei. Eu sei que eu sentia que eles não se incomodavam com a minha presença, pelo contrário, faziam de tudo para me agradar, eram super gentis, com respeito, com carinho. Quando eu ia, eles brincavam: “- Ah, nosso pé quente. Regininha pé quente”, eles brincavam assim. Porque teve uma época que eu estava indo e eles ganhavam, aí ficavam brincando que eu era “pé quente”. E era assim, com o maior carinho.
FRR – Li um artigo de Marcelo Russio no portal Comunique-se, em que ele afirma que “muitas repórteres se acomodavam no papel que lhes era imposto e se faziam de ignorantes e coitadinhas”. O que você pensa a respeito dessa afirmação?
REGINA – Geralmente a gente é tratada assim mesmo. Eu já fui fazer matéria, isso eu vou colocar muito na área de polícia, tá? Eu trabalhei no Aqui e Agora durante muito tempo, então, às vezes, a gente acompanhava blitz da polícia, essa coisa, então sempre alguém falava: “- Ó, não vai você não, porque você vai se chocar. Não vamos com você não, porque você vai ficar com medo. Não vai não que você vai ficar com não sei o quê, não sei o quê”. Como se a mulher fosse a medrosa, a insegura, a impressionada, entendeu? Aí eu falava: “- Não, eu vou. Eu tenho que ver”. Tipo assim, teve uma chacina, cinco mortos: “- Ó, não entra não, que você vai se chocar”. Eu falava assim: “- Me desculpa, mas eu tenho que entrar porque eu tenho que descrever o cenário”. Aí eu entrava, olhava, escrevia, saía. Poderia ter ficado chocada, como eu ficava, mas não demonstrava. Porque eu sentia que se eu não me impusesse, o cinegrafista não ia me respeitar, o iluminador não ia me respeitar, o policial não ia me respeitar. Eu tinha que mostrar que eu era mulher, mas eu tinha que trabalhar igual. Por quê que o repórter homem podia subir na favela, acompanhar uma blitz da polícia e a mulher não? Eu não estava ali para ser repórter? Eu tinha que correr o risco igual. Eu me impunha. Na verdade, eu não sei até se era para proteger, a gente é sempre dada como sexo frágil, que sempre se impressiona, que tem medo, que não consegue subir uma escada alta… Até que um dia a gente foi fazer uma matéria, e eu queria muito fazer uma matéria assim, lá em Belo Horizonte tinha um viaduto, até perto da minha casa, ficavam uns meninos cheirando cola, thinner, ficavam assaltando ali. Aquilo quando eu cheguei em Belo Horizonte, aquela ação daqueles meninos, aliás, da pivetada toda em Belo Horizonte, aquilo me impressionava muito. Porque aqui em Juiz de Fora você não vê isso. Mas lá, eles estavam habituados àquilo, que ninguém ligava e nem fazia matéria, eu falava: “- Isso rende uma série de matérias, como é que ninguém tá nem aí?”. Mas as pessoas se acostumaram àquela situação. Então eu me propus a fazer uma matéria, uma série de matérias, com o olhar de quem tinha acabado de chegar em Belo Horizonte. Como seria uma matéria de quem não estava acostumado a ver aquilo. Quem são aquelas crianças. De onde elas vem, porque que elas ficam na rua, cadê o pai, cadê a mãe. Aí eles: “- Não, você não vai conseguir! Os meninos te atacam, não sei o quê, não sei o quê”. E o cinegrafista que estava comigo era um medroso danado. Aí eu tive que provar, tive que armar um esquema, subimos numa lage de um posto de gasolina, fizemos várias cenas do posto de gasolina. O cara não queria subir, ficou com medo, aí eu peguei e subi. Eu subi. Peguei a câmera para mostrar a ele que dava. A todo momento eu tinha que fazer uma coisa a mais, para poder mostrar para eles que eu poderia ser igual. Eu trabalhava lá, só tinha homem que trabalhava no Aqui e Agora, todo o repórter que tinha era homem. Aí cheguei eu, de fora, acharam que eu era do interior bobinha, que eu era uma desinformada porque não estava acostumada com a polícia… Aí pegava aquela barra pesada, eles achavam que eu era fraquinha, querendo me poupar, e eu achava que aquilo era uma ofensa a mim. Eu falava assim: “-Não, muito obrigada. Agradeço pela sua preocupação, mas eu quero ir. Então vai ter um fato grave ali, “ vamos poupar ela que, coitadinha, ela pode ficar impressionada?”. Eu não quero isso, eu quero ir, quero ver, quero fazer. Aí eu senti um certo preconceito em relação a mulher. Dessa coisa de ter que provar que eu era capaz de enfrentar perigo sim. Uma vez a gente fez um tiroteio, a gente ficou lá agachada no tiroteio, aí depois neguinho disse: “- Pô, essa mulher é maior corajosa, maior Formiga Atômica”, eles me chamavam de Formiga Atômica porque eu era rápida (risos). Chegava ali, pá, pum, pegava o negócio, o cara explicava, eu já pegava. Porque acostumada em rádio, você tem que fazer matéria toda hora, você tá entrevistando uma pessoa aqui, tá acontecendo um fato ali, a pessoa tá te falando, você vai prestando atenção e: “- Tá obrigada. Mas aqui aconteceu isso e isso…”. Pô, você tá transmitindo ao vivo uma coisa, entrando ao vivo toda hora, só a minha voz. E outra, o rádio você não tem imagem, você tem que narrar, inclusive, o cenário que você está vendo. Então você desenvolve uma capacidade de percepção enorme. Quando você chega, eu já saquei que ali tem uma rosa, que ali tem uma flor, converso com você já estou reparando tudo, já reparei o seu jeito, já saí daqui, já sei o que você me falou, uma capacidade de raciocínio rápido que, na televisão, não tem necessidade de ser tão assim. Apesar de ser um veículo ágil, perde para o rádio. Onze anos de rádio, cheguei lá para fazer a televisão, chegava, fazia a matéria, perguntava: “- Qual é a outra?”, “- Quê? Já acabou?”, “- Já, me dá outra”. Sabe o que eu fazia? Eu saía, gravava o meu texto na rua, mandava a fita pelo motoboy, então eles ficavam assim, abobados de ver a minha rapidez, então eles me chamavam de Formiguinha Atômica. E depois, também eles quebraram a cara em ver, que não era nenhuma desinformada, bobinha do interior que tinha medinho da polícia, de pivete. Eu tive que provar para eles. “- Ah, que você não tá acostumada. Cuidado que você não está acostumada”, eu falava: “- Meu amigo, eu tenho onze anos de profissão, não sou menina bobinha não”. Aí eu senti um preconceito.
FRR- Das mulheres que estão trabalhando atualmente na área de jornalismo esportivo, você gosta do trabalho de quem?
REGINA – Eu gosto muito da Adriana Espineli. Não sei se porque eu trabalhei com ela na Globo, ela é da Alterosa agora. Ela começou na Globo, depois ela foi para Alterosa, ela fazia o Jornal da Alterosa. Ela faz a reportagem e quando o Leopoldo sai de férias, ela que apresenta o jornal. Eu gosto muito dela. Sabe por que? Eu acho que a Adriana, também porque conheço ela pessoalmente, é uma pessoa maravilhosa. Apesar das pessoas criticarem ela, por ela ser meio torcedora. Mas quem não é? Porque ela não é nenhuma carinha novinha, bonitinha, que tá ali pra chamar atenção, não. Ela tá ali porque ela entende, porque ela faz bem, porque ela faz bem feito. E ela é uma pessoa que é muito respeitada pelos jogadores. Eu lembro que, quando eu trabalhava na Globo, eu via muito isso, os jogadores, os clubes, eles respeitam muito a Adriana. Ela é uma pessoa mais velha, mais experiente. Não é uma modelo, sabe essas modelos bonitonas? Que cai de pára-quedas porque é bonita? Porque tá precisando de uma mulher bonita pra apresentar programa? Eu não vejo a Adriana assim, eu gosto da Adriana. Acho ela uma pessoa boa, uma pessoa bom caráter, bom coração, uma pessoa séria. Ao mesmo tempo que é uma pessoa divertida, você tá conversando com ela você morre de rir. Eu gosto muito dela.