Um novo Inter: as dez personagens que mudaram a história colorada

Clube se reorganiza, elimina jejum de títulos e enche a barriga de

conquistas em um intervalo de apenas quatro anos

Por Alexandre Alliatti e Richard Souza – Porto Alegre

Não foi por mágica, promessas aos santos ou bênçãos dos céus que o Inter, em menos de quatro anos, deixou de ser um clube em estado de inanição para virar um devorador de títulos. Mas o agigantamento do clube colorado, processo confirmado com o bicampeonato da Libertadores após a vitória por 3 a 2 sobre o Chivas, é responsabilidade de um brinde do destino ao clube gaúcho: a presença dos homens certos nos momentos de maior necessidade. Sabe-se lá o que seria do Inter sem Fernando Carvalho, Abel Braga, Fernandão, Clemer e tantos outros.

O GLOBOESPORTE.COM lista, abaixo, dez personagens que mudaram a história do Colorado. Outros dez, outros 20, outros tantos poderiam ser lembrados. Jorge Fossati, Tite, D’Alessandro, Bolívar, Rafael Sobis, Iarley, Edinho, Alex, Nilmar, Adriano Gabiru, Alexandre Pato: cada um deles ajudou como pôde, com suas falhas e qualidades. Mas aí vão dez figuras fundamentais, dez homens que transformaram o clube do Beira-Rio em um novo Inter.

Dirigentes, atletas, técnicos: eles mudaram a história do Inter (Foto: Editoria de Arte / Globoesporte.com)
  1. Fernando Carvalho
    É engraçado pensar que a lista precisa, necessariamente, ser encabeçada por um homem que não calça chuteiras, não comanda treinos, não bate pênaltis. Fernando Carvalho revolucionou o Inter e, a reboque, tudo que envolve o clube. Foi campeão da Libertadores e do mundo como presidente. Agora, conquistou a América de novo, desta vez como vice de futebol. É um dirigente que mistura capacidade administrativa, habilidade política e um enorme conhecimento de futebol. Ele deu organização ao Inter, firmou contratos maiores com os atletas, para que eles se vinculassem ao clube também emocionalmente, devolveu a auto-estima ao torcedor – primeiro, voltando a ganhar Gre-Nais; depois, conquistando títulos. É o maior cartola da história do clube.

2.Fernandão

Fernandão, o “capitão planeta” (Foto: EFE)

Ignoremos a dor que os colorados podem ter sentido ao ver Fernandão com a camisa do São Paulo em 2010. É coisa pequena, daquelas que não ficam na história. A grande questão é que o jogador centralizou uma necessidade tripla para o Inter em seu momento mais decisivo. Em 2006, quando o Inter tinha que cruzar a linha entre nova decepção e caminhada para o triunfo, Fernandão foi a referência técnica, a liderança no vestiário e o ídolo da torcida. Três em um. Com ele, o Colorado foi campeão da Libertadores e do mundo. Ficam para sempre as imagens do jogador cantando “vamo, vamo, Inter” de microfone em punho no retorno do Japão ou chorando feito criança no aniversário de um ano da Libertadores. Depois, já pelo São Paulo, ele foi eliminado justamente pelo Inter. E jogando pouco, muito pouco, quase nada.

3) Abel Braga

Abel superou críticas no Inter (Foto: AFP)

Dizem que o Inter foi campeão da Libertadores de 2006 “apesar do Abel Braga”. Injustiça. Por mais que os surtos ofensivistas do treinador não combinassem muito com as exigências da competição continental, Abelão foi decisivo. Mestre no comando do vestiário, ele tinha o elenco nas mãos dele. Se mandasse os jogadores à guerra por ele, os boleiros iriam. O clima de cumplicidade foi fundamental. E Abel soube ouvir. Depois de perder o Gauchão de 2006 para um Grêmio muito inferior, ele assimilou a mensagem de que o time precisava ser mais sólido. No Mundial, a estratégia para o jogo contra o Barcelona foi definida após pitacos dos jogadores. Ele os escutou, entendeu o que eles disseram e percebeu que eles tinham razão. Mesmo que fosse verdade essa maldade de que o Inter foi campeão da Libertadores “apesar do Abel Braga”, valeria o contra-ataque: foi campeão do mundo “por causa do Abel Braga”.

4) Clemer

O Inter já teve uma penca de goleiros melhores do que Clemer. Mas nenhum deles foi tão importante, tampouco tão vencedor quanto ele. Para cada falha, Clemer respondeu com uma conquista; para cada mão furada, um braço erguido para levantar troféus. Ele acompanhou Fernandão e Iarley no triunvirato que comandou o vestiário campeão do mundo. Ele chegou em 2002, justamente quando Fernando Carvalho assumiu o Inter. E se aposentou só no ano passado. Multicampeão, agora conquistou a Libertadores como treinador de goleiros.

5) Muricy Ramalho

Na prática, Muricy Ramalho só ganhou Gauchão pelo Inter, mas foi uma das pedras fundamentais da reestruturação do clube. Sob o comando dele, o time colorado voltou a disputar a Libertadores, após o (ainda não engolido) vice-campeonato brasileiro de 2005. O time campeão em 2006 tinha muito do trabalho deixado por Muricy um ano antes, com atletas como Ceará, Índio, Jorge Wagner e Edinho.

6) Tinga

Tinga voltou para ser bi (Foto: VIPCOMM)

Resumindo: Tinga joga muita bola. Se Fernandão foi fundamental, Tinga também foi. Ele é simbólico para a mudança de rumos do Inter. Até 2003, jogava pelo Grêmio, e o Colorado só perdia. A partir de 2005, passou a vestir vermelho, e aí o Inter desandou a vencer. O bacana é que o passado de defesa do rival pouco importou na relação entre o atleta e a torcida colorada. A identificação foi imediata, e enorme. Depois de fazer o gol do título da Libertadores de 2006, Tinga foi para a Alemanha, e agora voltou para ser bicampeão.

7) Vitório Piffero

Era o vice de futebol de Fernando Carvalho em 2006 e agora conquistou a América como presidente. Longe de ter a mesma relação do colega de diretoria com a torcida, Vitório Piffero também foi importante. No vestiário, ficou à sombra de Carvalho, mas teve uma gestão importante em aspectos administrativos, com o incremento no número de sócios e as reformas (ainda na promessa) no Beira-Rio para a Copa de 2014.

8) Índio

Talvez Índio não seja melhor zagueiro do que Bolívar ou Fabiano Eller, mas ele é o mais representativo dos três mosqueteiros da zaga colorada. O jogador chegou ao Inter em 2005 e não saiu mais. Foi o único campeão da Libertadores de 2006 a seguir no clube ininterruptamente até 2010. Tem dez títulos pelo Colorado: três Gauchões, duas Libertadores, o Mundial, a Recopa, a Sul-Americana, a Copa Dubai e a Copa Suruga.

9) Celso Roth

Lá em 1997, ao ser campeão gaúcho com um time que não era grande coisa, Celso Roth começou a escrever sua história no Inter. Em 2010, voltou ao clube para arrumar a casa na reta final da Libertadores. Foram apenas quatro jogos, mas, sem ele, o time não dava pinta de que poderia ser campeão. Roth, em quatro partidas, completou o serviço de Jorge Fossati, tornou o Inter bicampeão e eliminou a fama de perdedor que perseguia sua carreira.

10) Guiñazu

Depois das saídas de Fernandão e Tinga, a torcida do Inter precisava de um grande ídolo. Foi aí que chegou Pablo Horácio Guiñazu. Símbolo máximo de raça, ele logo conquistou as arquibancadas com carrinhos e correria sem fim. Foi campeão da Sul-Americana e conquistou dois Gauchões antes de também virar um libertador da América. Mesmo sem a braçadeira, perdida para Bolívar na fase final, o argentino foi um dos símbolos da conquista. Está para sempre no coração dos colorados.

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