2013: Lembra dele? No hospital, Alexandre revê o gol de sua vida 17 anos depois

Na manhã de 24 de outubro, o bom-dia de Alexandre para a enfermeira Suellem foi diferente. A noiva, Denise, e os amigos também se acostumaram a ouvir os relatos do ex-jogador do Santa Cruz sobre o momento mais importante da carreira. O golaço de falta no clássico contra o Sport, na Ilha do Retiro, em 1996, deu a vitória ao Tricolor por 1 a 0, em jogo válido pela primeira fase do Campeonato Pernambucano. Na última quinta-feira, dia do seu aniversário de 39 anos, nem a luta contra o câncer – em estado avançado – foi capaz de conter a euforia.

– Foi a primeira vez que ele não me deu nem “bom dia”. Assim que me viu, foi logo contando que o pessoal da televisão tinha achado o seu gol. Estava radiante – conta Suellem.

É a enfermeira quem tem estado mais perto de Alexandre nos últimos e difíceis 20 dias. Desde 7 de outubro, o ex-jogador repousa sobre um leito no Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip) do Recife. A batalha pela vida se arrasta há dois anos, mas só há três semanas o hospital virou lar.

Antes, Alexandre era submetido a sessões de quimioterapia em dias alternados. Foi assim nos últimos seis meses, desde que tomou conhecimento de que o câncer, diagnosticado em 2011, havia voltado. Hoje, o ex-jogador carrega um tumor na perna esquerda, a mesma que lhe proporcionou o maior momento da carreira. Um chute indefensável para o goleiro Albérico. Inesquecível, até para quem nunca tinha visto lance. Suellen, que já era íntima do gol, desfrutou da mesma felicidade.

O presente foi obra da noiva. Denise se encarregou de correr atrás das imagens. O contato com uma repórter, sua amiga, abriu as portas dos arquivos da TV Globo. Alexandre jamais havia revisto o lance, tantas e tantas vezes reconstruído em palavras. A ideia de Denise: exibir o vídeo durante a festa de aniversário surpresa preparada numa área – devidamente decorada – do hospital. Suellem também quis retribuir.

– Ele me ensina a todo instante. É um anjo que apareceu na minha vida. Sem nunca tê-lo visto, todos na minha família já o conhecem de tanto que eu falo dele – diz a enfermeira.

Denise tem tanto carinho por Suellem quanto o próprio Alexandre. As duas se empenharam, com mais alguns amigos, para organizar a festa. Trajado com uma camisa do Santa Cruz, Alexandre deixou o setor de internação. À sua espera, estavam todos: filha, noiva, amigos, o pessoal da igreja e, claro, Suellen.

O ex-lateral emocionou-se. Sorriu, chorou. Cantou parabéns, cantou músicas da igreja, acompanhou as palmas, falou pouco e ouviu muito. Na maior parte da festa, teve o auxílio do balão de oxigênio. Um enfermeiro perguntou se estava tudo bem. Obteve como resposta um polegar pra cima e um sorriso sincero. Contudo, ainda faltava o grande momento da noite.

Na tela de um notebook, Alexandre experimentou outra vez a emoção do gol marcado 17 anos antes. Cercado por gente querida de todos os lados, viu e reviu várias vezes. Parecia querer matar a saudade de um tempo que não volta. O privilégio do momento mágico do futebol cria raízes.

– Poucos momentos na vida nos causam um impacto de emoção extrema. E a sensação de um gol é inexplicável. Espero guardá-la pelo resto do tempo de vida que eu tiver, e espero que seja muito tempo ainda. É incrível poder fazer parte de um clássico e ajudar a construir a vitória de sua equipe.

Há ainda outro lado marcante daquele gol. Após o jogo, o hoje já falecido pai do ex-zagueiro se dirigiu ao vestiário.

– Além de tudo, esse gol me traz a memoria do meu pai, que naquele dia me deu o prazer de ir no vestiário e, tricolor que era, dividir comigo tamanha alegria. Lembro bem do abraço forte e de suas palavras: valeu filho, o que você fez foi bom.

A modesta carreira de jogador profissional terminou em 2009, no Espírito Santo. Dois anos depois, Alexandre começou a sentir as primeiras dores na perna. Em 2011, tomou conhecimento do câncer. Acreditava estar curado quando conheceu Denise. A recaída veio há cerca oito meses.

– Enquanto há vida, há esperança. Tenho bastante vontade de viver, de lutar pela vida. Meu desafio agora é lutar contra o câncer. Peço a todos que levem isso muito a sério. Que lutem, que briguem, porque o câncer é uma doença agressiva. É preciso lutar para vencê-la. E eu quero ajudar a contribuir com isso.

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